quarta-feira, 15 de setembro de 2004

Comunicado à População - Setembro de 2004



CHORANDO SOBRE AS CINZAS

O Bloco de Esquerda lamenta a catástrofe que se abateu sobre o concelho de Almodôvar, principalmente sobre as freguesias de São Barnabé e Santa Cruz, e quer deixar bem patente a sua solidariedade com as populações atingidas.

Uma palavra de louvor à abnegação das várias corporações de Bombeiros, em especial à do concelho de Almodôvar que, durante quatro dias, lutou incansavelmente para controlar um inimigo superior às suas forças.

Gostaríamos, no entanto, de realçar que uma calamidade deste género só atingiu estas proporções devido à falta de limpeza das zonas atingidas, ao péssimo estado em que se encontram alguns dos caminhos (o que dificultou o acesso dos bombeiros) e à falta de meios de combate a incêndios.

Sobre estes últimos cabe-nos lamentar que as prioridades dos nossos governantes se tenham dirigido e se continuem a dirigir para a organização do Euro 2004; para a compra de submarinos; ou, como foi há pouco anunciado, para a aquisição de cinco aviões para a Força Aérea.

Para o combate aos incêndios: nada.

O Estado não tem aviões Canadair e meios próprios de combate, ficando dependente da Alemanha, de Espanha ou de Marrocos e pagando a peso de ouro o aluguer de avionetas a firmas privadas que facturam milhões com o negócio dos incêndios.

Mesmo depois dos incêndio que devastou perto de 13 mil hectares no concelho de Almodôvar e um total de 37 mil, incluindo o Algarve, o governo continuou a mostrar uma enorme insensibilidade social, ao recusar a declaração do estado de calamidade pública: isto permitiria que os apoios chegassem de forma rápida às vítimas dos incêndios que, até ver, continuam à espera.

O pior é o argumento usado pelo governo, para quem a declaração de calamidade pública podia agravar a crise do turismo!!! Isto é, este governo assume-se como o defensor dos hoteleiros e até instalou a Secretaria de Estado do Turismo em Faro, mas virou as costas à desgraça das populações da serra algarvia e de Almodôvar… Isto é inaceitável, não pode haver portugueses de primeira e outros de segunda!

Na falta de apoios do Estado, queremos alertar as populações para possíveis e prováveis oportunistas que se poderão aproveitar da desgraça alheia. Neste país há sempre quem encha o saco, deixando os verdadeiros necessitados de saco vazio.

Somos a favor da intervenção do Estado de forma a minorar ou resolver os problemas das populações afectadas. Já não nos parece uma solução válida recorrer à "solidariedade" das pessoas anónimas que têm visto o seu poder de compra baixar estrondosamente nos últimos anos, devido às políticas económicas desastrosas dos nossos politiqueiros rosas e laranjas.


Este recurso à solidariedade é bastante perigoso porque pode trazer atrás de si intenções eleitoralistas da parte de quem os lança, mais uma vez aproveitando-se do mal dos outros.

E 2005 é ano de eleições autárquicas!

Gostaríamos, também, que fosse divulgado publicamente o modo como esse dinheiro vai ser usado; quais os critérios para a sua distribuição.

Lançamos também o repto ao governo para que se comece desde já a planificar a reposição da mancha florestal ardida em moldes que permitam o fácil acesso das viaturas dos bombeiros, privilegiando primeiro aqueles que tudo perderam e que necessitam desse rendimento para o seu sustento. Dever-se-á analisar com critério quer a quantidade quer as espécies de árvores que arderam. Este processo não pode ser feito sem a estreita colaboração e consulta das pessoas atingidas pelo flagelo do fogo.

É que, até agora, estas gentes ainda não viram nada, nem do Estado nem da tal conta de "solidariedade"!!!

Gostaríamos, igualmente, que fosse explicado à população qual foi o papel da Câmara Municipal de Almodôvar, como elemento principal da Protecção Civil municipal, na prevenção de situações desta natureza.

Setembro de 2004 Núcleo de Almodôvar do BE


Sem comentários:

Enviar um comentário