CHORANDO SOBRE AS CINZAS
O Bloco de Esquerda lamenta a
catástrofe que se abateu sobre o concelho de Almodôvar, principalmente sobre as
freguesias de São Barnabé e Santa Cruz, e quer deixar bem patente a sua
solidariedade com as populações atingidas.
Uma palavra de louvor à abnegação
das várias corporações de Bombeiros, em especial à do concelho de Almodôvar
que, durante quatro dias, lutou incansavelmente para controlar um inimigo
superior às suas forças.
Gostaríamos, no entanto, de
realçar que uma calamidade deste género só atingiu estas proporções devido à
falta de limpeza das zonas atingidas, ao péssimo estado em que se encontram
alguns dos caminhos (o que dificultou o acesso dos bombeiros) e à falta de
meios de combate a incêndios.
Sobre estes últimos cabe-nos
lamentar que as prioridades dos nossos governantes se tenham dirigido e se
continuem a dirigir para a organização do Euro 2004; para a compra
de submarinos; ou, como foi há pouco anunciado, para a aquisição
de cinco aviões para a Força Aérea.
Para o combate aos
incêndios: nada.
O Estado não tem aviões Canadair
e meios próprios de combate, ficando dependente da Alemanha, de Espanha ou de
Marrocos e pagando a peso de ouro o aluguer de avionetas a firmas
privadas que facturam milhões com o negócio dos incêndios.
Mesmo depois dos incêndio que
devastou perto de 13 mil hectares no concelho de Almodôvar e um total de 37
mil, incluindo o Algarve, o governo continuou a mostrar uma enorme
insensibilidade social, ao recusar a declaração do estado de calamidade pública:
isto permitiria que os apoios chegassem de forma rápida às vítimas dos
incêndios que, até ver, continuam à espera.
O pior é o argumento usado pelo
governo, para quem a declaração de calamidade pública podia agravar a crise do
turismo!!! Isto é, este governo assume-se como o defensor dos hoteleiros e até
instalou a Secretaria de Estado do Turismo em Faro, mas virou as costas à
desgraça das populações da serra algarvia e de Almodôvar… Isto é
inaceitável, não pode haver portugueses de primeira e outros de
segunda!
Na falta de apoios do Estado,
queremos alertar as populações para possíveis e prováveis oportunistas que se
poderão aproveitar da desgraça alheia. Neste país há sempre quem encha o saco,
deixando os verdadeiros necessitados de saco vazio.
Somos a favor da intervenção do
Estado de forma a minorar ou resolver os problemas das populações afectadas. Já
não nos parece uma solução válida recorrer à "solidariedade" das
pessoas anónimas que têm visto o seu poder de compra baixar estrondosamente nos
últimos anos, devido às políticas económicas desastrosas dos nossos
politiqueiros rosas e laranjas.
Este recurso à solidariedade é bastante
perigoso porque pode trazer atrás de si intenções eleitoralistas da parte de
quem os lança, mais uma vez aproveitando-se do mal dos outros.
E 2005 é ano de eleições
autárquicas!
Gostaríamos, também, que fosse
divulgado publicamente o modo como esse dinheiro vai ser usado; quais os
critérios para a sua distribuição.
Lançamos também o repto ao
governo para que se comece desde já a planificar a reposição da mancha
florestal ardida em moldes que permitam o fácil acesso das viaturas dos
bombeiros, privilegiando primeiro aqueles que tudo perderam e que necessitam
desse rendimento para o seu sustento. Dever-se-á analisar com critério quer a
quantidade quer as espécies de árvores que arderam. Este processo não pode ser
feito sem a estreita colaboração e consulta das pessoas atingidas pelo flagelo
do fogo.
É que, até agora, estas gentes
ainda não viram nada, nem do Estado nem da tal conta de
"solidariedade"!!!
Gostaríamos, igualmente, que
fosse explicado à população qual foi o papel da Câmara Municipal de Almodôvar,
como elemento principal da Protecção Civil municipal, na prevenção de situações
desta natureza.
Setembro de 2004 Núcleo de
Almodôvar do BE
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