sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Cristina Ferreira - Crónicas ( X )








Riqueza: onde andas?


Termina hoje, na Suíça, em Davos, O Fórum Económico Mundial, que junta os principais líderes políticos e empresariais do mundo.



Também nesta semana foi divulgado o relatório internacional da organização não-governamental Oxfam que mostra que mais de 80 por cento da riqueza criada no mundo em 2017 foi parar às mãos dos mais ricos que representam 1 por cento da população mundial.

O artigo online, de 21 de janeiro, do sapo24 refere que o relatório "Recompensem o trabalho, não a riqueza", da Comissão de Combate à Fome de Oxford - Oxfam (uma confederação de 17 organizações não-governamentais) mostra que metade da população mundial não ficou com qualquer parcela daquela riqueza.


Segundo a Oxfam, houve um aumento histórico no número de multimilionários no mundo: "atualmente existem 2.043 multimilionários no mundo e 9 em cada 10 são homens".

O estudo calculou que a riqueza dos multimilionários aumentou 13% ao ano em média desde 2010, seis vezes mais do que os aumentos dos salários pagos aos trabalhadores (2% ao ano).

O mesmo relatório indicou que em 2017 a riqueza desse grupo aumentou 762 mil milhões de dólares (622,8 mil milhões de euros), uma verba suficiente para acabar mais de sete vezes com a pobreza extrema no mundo.

Para a organização não-governamental, o crescimento sem precedentes do número de bilionários não é um sinal de uma economia próspera, mas um sintoma de um sistema extremamente problemático já que mais de metade da população mundial tem um rendimento diário entre 2 e 10 dólares (entre 1,6 euros e 8,1 euros).

"Enquanto o 1% mais rico ficou com 27% do crescimento do rendimento global entre 1980 e 2016, a metade mais pobre do mundo ficou com 13%”, refere o relatório.

“Mantendo o mesmo nível de desigualdade, a economia global precisaria ser 175 vezes maior para permitir que todos passassem a ganhar mais de 5 dólares (4 euros) por dia", concluiu a análise.

Como diz o escritor moçambicano, Mia Couto, a maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos, e essa riqueza nasceu do empobrecimento da cidade e da sociedade.







26/01/2018



Cristina Ferreira

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Consolidar Conhecimentos



Desde a sua criação em abril de 2012, o Observatório sobre Crises e Alternativas, uma das faces de investigação do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, em colaboração com o Instituto para os Estudos Laborais da Organização Internacional do Trabalho (INST/OIT), desenvolve o seu trabalho e estudos das crises em quatro domínios:

  • Estudo das relações entre finança e economia
  • Estudo das dinâmicas no mundo do trabalho
  • Estado Social e políticas sociais
  • Estado, governação e democracia
Do trabalho do Observatório resultam uma caracterização e diagnóstico mais preciso das crises que em Portugal se têm desenvolvido, nas suas várias dimensões e manifestações.
Este conhecimento tem sido regularmente vertido em documentação diversa que agora, boa parte, veio enriquecer o nosso acervo virtual e cuja disponibilidade pública em certa medida preconiza o desejo nas palavras de Boaventura de Sousa Santos na sessão de apresentação pública do Observatório:

" Este Observatório é uma ponte entre a comunidade e o saber científicos, por um lado, a as cidadãs e os cidadãos e suas organizações e movimentos, por outro."

É com imenso prazer, que vos convidamos a Consolidar Conhecimentos, nesta nossa Biblioteca Virtual,


   Barómetro das Crises, nº.18 (aceder aqui)
   Retoma económica: o lastro chamado precariedade


Este Barómetro atualiza os dados analisados no Barómetro n.º 16, para quase três trimestres de 2017, procurando verificar se houve alteração nas tendências da retoma económica então constatadas: 1) a redução do peso dos contratos permanentes na estrutura do emprego por conta de outrem no sector privado; 2) a existência consolidada de uma miríade de tipos de contratos não permanentes, de baixa duração, muitos deles temporários e/ou com horários parciais, em permanente rotação para o mesmo posto de trabalho ou até para o mesmo trabalhador; 3) uma concentração do emprego nos serviços, em atividades muitas vezes de baixa produtividade; 4) a degradação das remunerações do trabalho, em que as atualizações do SMN funcionam como impulsionador da melhoria da remuneração média praticada nos novos contratos.



   Cadernos do Observatório, #10 (aceder aqui)
   O labirinto das políticas de emprego



Este Caderno aborda em profundidade as políticas de emprego levadas a cabo de 2010 a 2015 – abrangendo o período de intervenção da Troica – e as suas principais linhas de orientação. E analisa a sua instabilidade, o seu grau de eficácia, bem como a forma como os serviços públicos foram perdendo diversidade de medidas e se transformaram num labirinto de medidas, sem os devidos recursos disponíveis para as acompanhar, abrindo cada vez mais a porta – até por via de protocolos do Estado – a entidades privadas para colmatar as lacunas deixadas.





   A ANATOMIA DA CRISE: Identificar os problemas para construir as alternativas
   1º relatório, preliminar, do Observatório sobre Crises e Alternativas (Aceder aqui)

Relatório integral publicado em livro " A Economia Política do Retrocesso. Crise, causas e objetivos " | coordenação: José Reis | Editora: Almedina | Coleção: Coleção CES | Tema: Série Conhecimento e instituições | Data: Setembro, 2014 | ISBN: 9789724057354 - Link externo para aquisição do livro (Aceder aqui)

Três sugestões de leitura retirados do reportório mais recente do nosso acervo que está disponível (abrir BIBLIOTECA). Com a missão de ser agente ativo na mudança de paradigma, o Núcleo Concelhio de Almodôvar do Bloco de Esquerda, convida-o à leitura na espetativa de contribuir para a consolidação dos conhecimentos dos leitores que façam uso deste reportório documental. 






sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Cristina Ferreira - Crónicas ( IX )








Tudo o que é demais aborrece!



As imagens certas no momento certo "vendem" qualquer produto, seja ele económico, social ou político. Não há veículo mais eficaz para a construção e difusão de uma determinada imagem do que a televisão. A força e a eficácia destes meios leva a que o poder político , em particular, tenha vindo a procurá-los cada vez mais, no sentido de fazer chegar ao público imagens que o promovam adequadamente. Sucesso e poder andam de mãos dadas, ou seja, um é consequência do outro e vice-versa, afirma Ana Castro, no artigo da revista XIS.


Marcelo Rebelo de Sousa tem sido um "bom" exemplo da utilização intensiva da imagem, dirão alguns, eu digo que é um mau exemplo. As diversas estações televisivas usam a figura do presidente como o motivo mais importante do que se passa no país, nada mais acontece quando Marcelo Rebelo de Sousa se desloca aos locais das tragédias. A televisão precisa dos abraços e lágrimas, ele das câmaras. Ah! e não esquecer que a fotografia com o Sr. Presidente também já é recorrente, é para mais tarde recordar.



Muitos seguem este exemplo: aparecer o maior número de vezes possível, publicar fotos de tudo e com todos, pois o mais é importante é ser sempre notícia. O motivo não é o mais importante e, por isso, se observarmos o que é publicado descobrimos que o conteúdo não é mais do que a autopromoção, a vertente pessoal, o mostrar que esteve lá - nem que seja só para tirar a fotografia, publicar e depois ir embora. A moda de estar em todos os eventos, a necessidade de mostrar que se esteve, parece que se está a criar um álbum fotográfico para o próprio se convencer de que é capaz.

Claro que todos queremos saber o que vai acontecendo mas essa informação de certeza que não está nem na fotografia que tem o presidente em primeiro plano, nem no discurso, ou entrevista na qual se refere constantemente eu.

Nos outros talvez crie a ilusão de participar nos acontecimentos ou a ideia de que estão a ser informados, para mim parece-me uma necessidade de afirmação, de elevar a autoestima, como se houvesse uma lacuna para preencher.

De uma maneira geral usa-se a imagem, e nas diversas redes sociais isso é uma constante, e não é aí que reside o problema: o problema está no uso abusivo, na repetição, na mensagem que se quer fazer passar.
Por isso é preciso descodificar a imagem, é preciso perceber as dinâmicas escondidas inerentes à promoção pessoal, é preciso desenvolver o sentido crítico e o distanciamento que permita olhar para lá das aparências.

A subtil e engenhosa apresentação do quotidiano é sensacionalista, quando deveria ser feita com rigor, exatidão e interpretada com honestidade. A distinção entre notícia, opinião e promoção pessoal deve ficar bem clara aos olhos do público pois, de outra maneira, só teremos o engano e a mediocridade.

Fernando Namora, no livro Diálogo em Setembro, afirma que tem de haver um limiar de respeito, que ninguém pense servir-se da televisão, ou outros meios, para proceder a uma lavagem dos cérebros com o único objetivo de embrutecer as gentes.

Aos ouvintes da Castrense FM [e leitores neste espaço], um bom fim de semana.




19/01/2018


Cristina Ferreira

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Minas de Portugal: De 2017 para 2018 nenhuma luta ficou esquecida.




" O último trimestre de 2017 foi de conflito entre os trabalhadores mineiros de fundo, de superfície e serviços conexos, no baixo Alentejo, e as respetivas administrações das empresas concessionárias das explorações minerais e “prestadoras de serviços”.

Ao mesmo tempo que se anunciam os resultados positivos das estratégias alternativas acordadas à esquerda, e sustentadoras do atual governo PS, como a recuperação e consolidação de direitos com evidentes reflexos positivos nos índices económicos e de desenvolvimento, o sector mineiro desta região dá provas de não querer estar em linha com a estratégia governamental.

Os trabalhadores da SOMINCOR S.A., instigados a mudar para um horário de trabalho, que aparentava ser benéfico para a conciliação da vida pessoal com a profissional – uma manobra que durou vários meses com testes sectoriais e muita “conversa de corredor” que os levou a crer na viabilidade e honestidade de uma proposta que iria ao encontro das suas reivindicações, esbarraram numa armadilha que afinal lhes faria recuar os direitos consagrados pelo seu contrato coletivo de trabalho, caso os seus representantes legais não a tivessem detetado atempadamente.

Se por um lado, a proposta de horário da empresa parecia convidativa: um horário condensado em 4 dias de trabalho a 10h42m seguido de 4 dias de descanso, a aceitação do mesmo previa, já sem referir as implícitas perdas monetárias, a renúncia a dias de férias, do pagamento de parte das horas noturnas, a venda compulsiva a preço de saldo de folgas adquiridas, a extinção do crédito de 3 dias por compensação da penosidade dos trabalhos e, principalmente, a extinção do Contrato Coletivo de Trabalho pela sua substituição por um Acordo de Empresa – Alto negócio, portanto!

Os trabalhadores, a quem se dirigiam estas alterações, são homens e mulheres cujo carácter foi moldado pela rudeza do seu trabalho, porém não são acéfalos como alguns altos quadros os julgaram e esse foi o maior erro que insistentemente cometeram e fez despoletar o conflito.

Depois de várias conversações entre os representantes da administração e os representantes dos trabalhadores, que conduziram basicamente a nada em concreto, os trabalhadores em plenário em meados de setembro, decidiram enveredar por um combate mais vigoroso pelos seus direitos, que se traduziu em 3 períodos de greve de cerca de uma semana laboral, em cada um dos 3 meses seguintes, correspondendo ao último trimestre de 2017.

A esta luta juntaram-se também os trabalhadores de superfície da operação de lavarias e serviços conexos, que há longos anos reivindicam a contagem do tempo de serviço em condições idênticas às dos mineiros, dado que o grau de desgaste profissional nestes locais de trabalho é similar.

Assim, em outubro de 2017, os trabalhadores da SOMINCOR, S.A. (mineiros, operadores de lavarias e de outras áreas) deram início ao primeiro período de greve deliberado, que alcançou a adesão de 17% dos trabalhadores. Um número adiantado à comunicação social pela própria empresa, mas que teve impacto na paralisação de aproximadamente 90% da cadeia de 

produção, correspondendo a significativas perdas económicas.

Naturalmente, contra as expectativas dos trabalhadores, a luta agudizou-se em novembro, quando no 2º período de greve, a administração em resposta às justas reivindicações dos trabalhadores, adotou uma posição de força, enveredando por caminhos pouco dignos de pessoas de bem.

Desde logo vedou o acesso com redes e portões ao espaço onde historicamente os trabalhadores ganharam várias lutas, empurrando desta forma o piquete de greve para espaço “público” onde ficaria mais facilitada a atuação da GNR. E, efetivamente, a GNR consumou os objetivos expectados: reprimir a ação do piquete de greve e outras peripécias de condução, quiçá aprendidas nas notícias sobre atropelamento de civis naquela parte dos telejornais em que se fala de terrorismo, e dignas de inquirição na Assembleia da República.

A decisão da administração da SOMINCOR, S.A., empurrar o piquete de greve para fora do espaço “privado” da empresa foi, talvez, a alavanca necessária para desemperrar os trabalhadores mineiros e fazê-los ir a Lisboa, ao Ministério do Trabalho e Segurança Social para em uníssono se fazerem ouvir nas suas justas reivindicações ao Ministro Vieira da Silva, que é a quem compete a mediação, direta ou por delegação, dos conflitos laborais.

Eventualmente, bateu-se em porta errada, já que este é o ministro, que no anterior mandato de um outro governo PS, foi o principal progenitor da aberração da caducidade dos Contratos Coletivos de Trabalho.

Nas minas de Neves-Corvo, explorada pela SOMINCOR, S.A., os vários anos de paz social que aí se viveram, foram anos de demasiadas conceções. Muitas vezes por medo, outras por comodismo, e tantas mais que em jeito de segredo e promessa, tal como se faz com as crianças: se te portares bem, ganhas um doce; abriram espaço suficiente para fragilizar a coesão e a camaradagem mineira, de fundo e de superfície. 

Com uma certa distância temporal, bem como geográfica, a anterior Pirites Alentejanas – presentemente Almina S.A. - dista de Neves-Corvo cerca de 40 km e situa-se na vila alentejana de Aljustrel, e já foi concessão mineira da SOMINCOR S.A. 

Depois de muitos enredos em torno desta concessão mineira em Aljustrel, que até levaram à demissão do Ministro Manuel Pinho, a concessão acabou por ser entregue às mãos dos irmãos Martins do grupo Martinfer e transformou-se em ALMINA, S.A..

Mas, aqui, a transformação não foi só no nome.

Enquanto concessão da mineira SOMINCOR, S.A., em nome da paz social, abriu-se caminho a práticas laborais que só têm paralelo na obra “Germinal”, do Francês Emílio Zola. Os irmãos Martins, sucessores à anterior concessão, verdadeiros desconhecedores do negócio mineiro, mas de artes apuradas para a exploração, aprofundaram-nas.

Durante anos, em nome da paz social e do bem comum, esta empresa teve uma classe especial de trabalhadores: os colaboradores. Mesmo sem se aperceberem, com o tempo a classe trabalhadora foi desaparecendo, pouco a pouco. Uns foram para a reforma, outros morreram,  muitos foram amordaçados e os poucos que ainda se lembravam do que era ser trabalhador, achavam-se poucos para fazer a diferença.

Os horários condensados de 10 horas de trabalho em 4 dias com 4 dias de folga, permite-lhes ter um salário acima do Salário Mínimo Nacional, cerca de 600 Euros. Aqueles que hoje ainda não têm um “biscate” na folga, se a conjuntura assim o permitir, em 2019, já terão o privilégio de se matarem a trabalhar pelo preço mínimo de referência salarial nacional. E não é recurso estilístico quando se refere que estes trabalhadores matam-se a trabalhar, é literalmente um facto, que na maior parte dos casos tenta ser dissociado das condições precárias da segurança nestas minas e que frequentemente envolve equipamentos obsoletos, desprotegidos, manutenção deficiente, etc.

Animados pelos sucessos da luta dos camaradas da mina Neves-Corvo, os trabalhadores mineiros na Almina S.A., homens e mulheres, resolveram dizer BASTA!

BASTA! de medos, de comodismos, de humilhação.

Disseram-no em plenário, e fizeram-no nas ruas de Aljustrel.

Durante 4 dias, no final de novembro, organizaram-se em piquetes de greve, pelo direito à segurança, a serem representados pelo sindicato mineiro, pela aplicação do Contrato Coletivo de Trabalho da indústria mineira, e outras matérias.

Nesta empresa, ditou o bom senso que se iniciassem conversações com o Sindicato Mineiro.

Na SOMINCOR, infelizmente, foi necessário dar início a um terceiro período de greve, em dezembro, em três dias intercalados. Aqui, porque impera o braço de ferro, mais que o bom senso - talvez uma questão de cultura ou de gestão americanada – o administrador delegado que vinha a “acompanhar” esta luta, Michael Welch cedeu lugar a um outro administrador. Talvez a ameaça de encerrar o projeto ZEP – Zinc Exploration Project, não tenha agradado aos acionistas da sueco-canadiana Lundin Mining (dona da SOMINCOR S.A.). Outros mais tomaram o mesmo caminho. Diz-se na gíria que já rolam cabeças…

Kanneth Lee Norris assume agora o lugar que Michael Welch vagou. Deste homem, que passou por vários países onde assumiu diversos cargos nos seus 31 anos de experiência mineira, espera-se que nos 18 anos que esteve em Espanha tenha compreendido que os homens e mulheres trabalhadores nas minas de Portugal, quando estão determinados a lutar pelas suas justas reivindicações, as ameaças e cenas de faroeste não os farão vacilar.

No sector mineiro, tal como noutros sectores, 2018 já advinha-se ser um ano de lutas. Desde logo, a luta dos homens e mulheres trabalhadores mineiros de fundo e superfície na SOMINCOR S.A. que está em suspenso face à mudança na liderança na administração. Para já, o novo administrador, já encetou conversações com os dirigentes sindicais, a quem pediu tempo para se inteirar com maior clareza sobre a “situação” na empresa. No momento em que escrevo estas linhas, decorrem sessões plenárias onde para além das matérias reivindicativas “recorrentes” serão deliberados os prazos de tréguas e as formas de luta que se seguirão, caso a linha de negociação use a receita anterior. Na Almina S.A., o movimento sindical está a renascer e os acontecimentos futuros dependerão em boa medida da firmeza do punho de cada homem e cada mulher na exigência de maior dignidade e respeito no seu posto de trabalho. Também nas minas da Panasqueira, os camaradas mineiros, homens e mulheres de classe, terão as suas batalhas para lutar.

Este é um ano de lutas mas, também, de esperança e conquista.

Vivam os trabalhadores mineiros!

Vivam os trabalhadores portugueses! "



Por Filipe M Santos, em esquerda.net, artigo de opinião em 13 de Janeiro

Almodôvar, 11 de Janeiro de 2018

sábado, 13 de janeiro de 2018

A Criticar


A crítica é um processo de auto e heteroavaliação, muitas vezes exercido de forma inconsciente, e despoletado por estímulos externos físicos e, ou, abstratos, percecionados pelo ser crítico em acordo com o seu grau de conhecimentos. Esta é uma ferramenta, tal como um escopro  ou um cinzel, quando bem usada nas mãos de um mestre escultor, ajuda a criar uma sociedade mais harmoniosa. Nas mãos de curiosos, pode reduzir a pó a obra que os mestres até aí conseguiram erguer.

O Bloco de Esquerda em Almodôvar, é um partido sem liderança autárquica e sem assento deliberativo nos órgãos autárquicos a que se propôs. Resultou assim no último sufrágio, por escolha livre dos e das almodovarenses. Sem pretender quaisquer tipos de acusações e ressabiamentos, naturalmente a avaliação dos muitos homens e mulheres, à representação do Bloco de Esquerda neste concelho, abre espaço à crítica, e daí à mudança, que se quer em movimento crescente, conciso e conhecedor.

Algumas mudanças estão já a acontecer e isso é notório neste nosso Blogue e fora dele.

Estamos a crescer no conhecimento:

Desde algum tempo estamos a construir uma Biblioteca Virtual onde reunimos para além de documentação da ação pública do nosso núcleo concelhio, incluímos obras e documentos de outros autores. Os temas em destaque vão da economia à análise social, passam pelos assuntos laborais e tantos outros com interesse para o nosso crescimento enquanto cidadãos, agentes na mudança em democracia.

E já que falámos em Crítica, aqui, apresentamos a capa do último número editado, que poderá aceder através da LIGAÇÃO PARA A CRÍTICA - 14.

Os números de edição anteriores estão disponíveis em avulso ou agrupados por anos em formato PDF ou  comprimido RAR, caso estabeleça LIGAÇÃO COM A BIBLIOTECA.

Estamos a aumentar o alcance da nossa mensagem:

Desde 24 de novembro de 2017, o Bloco de Esquerda tem sido presença regular nas emissões de sexta da rádio Castrense na rubrica Caixa Alta. que é um espaço diário de opinião com duas repetições. Esta é uma colaboração com individualidades de vários quadrantes geográficos e políticos, e onde a camarada  Cristina Ferreira  se debruça sobre os assuntos de maior relevo da atualidade e naturalmente uma ponta de crítica onde e quando faz falta.

No nosso Blogue pode encontrar todos os textos, som e imagens disponíves.

O Caixa Alta VIII foi a última edição à data e pode ler, ver e ouvir através desta LIGAÇÃO.

Melhoramos o uso das redes sociais:

O Núcleo de Almodôvar do Bloco de Esquerda, motivados pela escassez de vários recursos, desde 2005 tem tipo presença permanente na internet. Alguns sítios e meios fracassaram e aos poucos extinguiram-se, outros foram mais eficazes, mantiveram-se e gradualmente estão a evoluir. 

Referimo-nos particularmente a este Blogue e à Página do Facebook - para quem não conhece esse nosso espaço pode seguir a LIGAÇÃO e fazer GOSTO na página.

Esta é a atual foto de perfil, não tem nada que enganar.

Recentemente, reparámos o botão de contacto da Página, que agora sim, conduz o visitante a um formulário de contacto.

Se leste esta mensagem até aqui, e ainda não és aderente do Bloco de Esquerda, do que é que estás à espera? Faz a diferença! CARREGA NO BOTÃO , conhece-nos e eleva a tua capacidade de crítica.














sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Cristina Ferreira - Crónicas ( VIII )






2018: será este um ano de igualdades?

Será 2018 o ano em que as mulheres ganharão tanto como os homens?

Esta pergunta surge no seguimento da notícia de que a Islândia é o primeiro país a obrigar as empresas com mais de 25 trabalhadores a acabar com as diferenças salariais entre homens  mulheres.

Desde o dia 1 de Janeiro, as empresas são obrigadas a certificar e provar que pagam salários iguais a homens e mulheres com a mesma função.

Portugal está a estudar a possibilidade de aplicar o modelo islandês de certificação da igualdade salarial afirmou a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro.

Esta é uma excelente notícia se tivermos em conta que, em Portugal, os homens ganham, em média e de acordo com os dados da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género 990 euros de salário, enquanto as mulheres se ficam pelos 824 euros, é só uma diferença de 166€, pelo que é totalmente justificada esta medida de modo a sinalizar e combater a desigualdade laboral.


Esta certificação da igualdade salarial, nos primeiros dois anos, será aplicável às empresas com mais de 250 trabalhadores e, posteriormente, será alargada às empresas com mais de 100 funcionários.

A discriminação salarial baseada no sexo passará a constituir uma contraordenação grave. 

Dois anos é muito tempo, e se tivermos em conta que em Portugal 95% do tecido empresarial é composto por micro, pequenas e médias empresas e, no distrito de Beja esse número sobe. Até que seja aplicada nos diversos concelhos do distrito, temos muitas empresas descansadas e a praticar essa desigualdade.

Seria bom que os deputados da Assembleia da República, eleitos pelo círculo de Beja, tivessem em conta esta situação e tomassem medidas que minimizassem o atraso da reposição da igualdade salarial.

“O que não podemos continuar a aceitar é que, para trabalho de valor igual, as pessoas ganhem valores diferentes”, conclui a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade pois, apesar desta igualdade estar consagrada na lei, como afirma a Confederação da Indústria Portuguesa, ela não é praticada por todas as empresas.

Outra boa notícia é a de que o boletim de voto em braille poderá ser uma realidade já em 2019.

Assim, no próximo ano, os eleitores podem contar, nas eleições legislativas e europeias com o boletim de voto com a matriz em braille”, e podem exercer este ato de forma autónoma.

Mais um passo para uma sociedade que se quer justa, inclusiva e socialmente responsável, eliminando barreiras para permitir um acesso verdadeiramente universal para todos os cidadãos e cidadãs.

E agora por falar em inclusão, ou melhor, exclusão:

O município de Almodôvar este ano não terá o festival Terras sem Sombra, talvez para não fazer sombra a Castro Verde que também não adere, pois os custos monetários associados ao evento são muito elevados!

Já é mau quando se corta na cultura, mas a questão agrava-se quando se afirma, como foi dito pelo presidente da câmara, António Bota, em declarações a esta rádio, que o público-alvo deste festival, a nível turístico, traz turistas mas que, apesar de serem queridos, vêm das sete às dez horas e isso não traz vantagens económicas nem para o comércio local, nem para a restauração, este tipo de público não traz grandes vantagens económicas !!!

Erro crasso considerar a cultura nesta perspetiva comercial, e sobretudo desvalorizar aqueles que nos visitam, mesmo que por poucas horas.

Mas a questão agrava-se ainda mais quando comparamos esta explicação com o discurso feito aquando da inauguração do órgão de tubos em julho de 2017: foi dito que seria uma mais-valia o conjunto de concertos e que este aspeto cultural iria permitir atrair turistas e dinamizar o comércio local, bem como dar a conhecer Almodôvar e a sua cultura!

Então em que ficamos?

Queremos turistas ou não?

Já agora devo dizer que este tema da dinamização do comércio local em todos os discursos começa a perder a eficácia desejada, de tão repetido que tem sido.

Mas voltando ao turismo: se o turista é aquele que vem conhecer para depois dar a conhecer, então temos aqui um problema para resolver: que tipo de turistas queremos no nosso concelho?

Assim, e culturalmente falando, deixo aqui algumas questões:

A primeira: como vai ser pensada e executada a agenda cultural do concelho? Que tipo de eventos vai incluir?

A segunda: aposta-se na qualidade ou na quantidade? É que elas não são sinónimas!

A terceira: que público pretende cativar?

Indo ao encontro das preocupações do presidente da câmara, devo referir que segundo vários estudos publicados, cada 1% de investimento em cultura tem um retorno de 2%, logo há lucro; por outro lado cultura significa, em sentido alargado, o conjunto dos conhecimentos adquiridos que contribuem para a formação do indivíduo enquanto ser social, pelo que, quanto maior riqueza cultural este tiver, maior será o retorno que dará à sociedade.



Bom fim de semana!



12/01/2018

Cristina Ferreira

sábado, 6 de janeiro de 2018

Cristina Ferreira - Crónicas ( VII )




Este país não é para todos, infelizmente!



Entrámos em 2018 com grandes novidades, ou talvez não!

Está na ordem do dia o encerramento de algumas estações dos CTT - Correios de Portugal e consequentes despedimentos que só demonstram que a história das privatizações, na maioria das vezes, é ruinosa mas isso não impede que se continue a querer privatizar.

Três anos bastaram para que os CTT contribuíssem para a degradação dos serviços e, como diz Joana Mortágua, a única carta que chega a horas é a que leva os cheques com a choruda distribuição de lucros aos acionistas.

Apesar de alegarem a existência de uma crise para justificar o encerramento de mais 22 estações e a redução de mais de 800 trabalhadores, os acionistas meteram ao bolso 90% dos lucros da empresa.


Os acionistas aproveitaram a privatização de um serviço público para criar um banco comercial com uma rede de balcões imbatível no território nacional.

Grande negócio!!!!

Entretanto, nas zonas rurais, o carteiro passa uma vez, isto se for uma boa semana.

Rouba-se um serviço que deveria ser público, rouba-se qualidade e impede-se as pessoas de aceder aos serviços.

Haja sensatez e vergonha!

Se por estas bandas os CTT ainda permanecem, será que a onda de encerramentos demora a chegar?

No distrito de Beja nenhuma estação, por enquanto, fechará mas só pelo facto de que a empresa tem que garantir o serviço e requisitos de densidade geográfica exigidos pelo serviço universal, ou seja, garantir os serviços mínimos.

Por enquanto estamos safos!

Por Almodôvar outros cenários se desenham: estão abertas as inscrições para o Programa de Ocupação Municipal de Desempregados de Longa Duração; este abrange no máximo quinze candidatos, pelo período de nove meses, que se encontrem em situação de desemprego de longa duração.

Até aqui tudo bem!

Mas se o objetivo deste programa é, como se diz no regulamento específico, contribuir para a formação humana e profissional, e posterior reintrodução no mercado de trabalho, bem como melhorar a situação económica dos participantes neste programa, qual a lógica de atribuir uma Bolsa Mensal que se destina apenas a fazer face a despesas que surjam do desenvolvimento das atividades pelos participantes?

Será que não é possível dar o valor justo pelo trabalho efetuado?

Se o Orçamento e Grandes Opções do Plano para 2018 do município de Almodôvar, no valor de 12 milhões de € é, como diz o presidente da câmara, e cito, "um orçamento virado, uma vez mais, para as pessoas, assim como para o desenvolvimento económico e social do concelho", então este programa poderia, e deveria, ser reforçado.

Nas palavras do presidente da câmara, António Bota, "a vertente financeira, que não sendo muito significativa, será mais um estímulo para que este projeto tenha o êxito que pretendemos, que passa essencialmente por dar dignidade e ocupar de forma terapêutica todos os nossos concidadãos que infelizmente não têm trabalho".

Terapêutico seria ter trabalho e digno seria receber o que é justo pelo trabalho efetuado, ideal, digo eu, seria uma efetiva reintegração no mercado de trabalho.

Tal como referi no debate na Rádio Castrense, aquando das eleições autárquicas 2017, e a propósito da criação de emprego, este tipo de programas não proporciona nem a resolução do problema da falta de emprego, nem tira as pessoas da precariedade laboral, nem dá independência económica.

Continuo a fazer a mesma pergunta que fiz na altura: que tipo de contrato de trabalho é que se quer fazer com as pessoas?


Bom fim de semana!





05/01/2018

Cristina Ferreira