CAIXA ALTA XXX
Rádio Castrense 93.0 fm - 6ª Feira
Morreu João Semedo. Figura incontornável da história do Bloco de Esquerda e da política nacional.
Defendeu, como poucos, o Serviço Nacional de Saúde: médico de profissão, as políticas de saúde sempre estiveram presentes na sua atividade política e profissional - diretor do Hospital Joaquim Urbano, no Porto, nove anos de atividade parlamentar em que assumiu a coordenação dos temas relacionados com a política de saúde, sendo vice-presidente dessa comissão parlamentar. A lei do testamento vital, bem como a introdução na lei do conceito de "tempo de espera" e a imposição de limites a esse tempo, incluído na Carta de Direitos dos Utentes do Serviço Nacional de Saúde foram algumas das conquistas que o Bloco de Esquerda conseguiu trazendo melhorias significativas para os utentes bem como nos serviços prestados.
O ano de 2015 deu o melhor resultado eleitoral para o Bloco de Esquerda em eleições legislativas mas, para João Semedo, foi um ano de luta contra o cancro que lhe tirou as cordas vocais.
A vontade de intervenção política manteve-se e a prova disso foi o combate pelo direito a morrer com dignidade que o levou a diversos locais do país - esteve em Beja, na Casa da Cultura, em março de 2017, apresentando o projeto e defendendo esse direito a uma morte digna e à despenalização da morte assistida.
Por diversas vezes veio ao distrito de Beja, manifestando sempre a preocupação para com as questões de saúde no Alentejo, particularmente as do distrito - visitou os hospitais de Beja e Serpa, a Unidade de Cuidados Continuados Integrados de Casével, o Centro de Saúde de Castro Verde, a Ordem dos Médicos em Beja; participou, também, no debate "Que rede de cuidados de saúde?" na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Beja, recolheu assinaturas para a despenalização do aborto, visitou a Junta de freguesia de Casével.
No âmbito da 9.ª Convenção Nacional do Bloco de Esquerda veio a Beja apresentar a Moção U e Mariana Aiveca a Moção E.
A sua postura calma e ponderada, bem como a certeza do caminho a seguir foram sempre uma constante - a luta foi travada em duas frentes: a política e a pessoal mas como ele próprio afirmou:
“Tive a vida que escolhi, a vida que quis, não tenho nada de que me arrependa no que foi importante. Segui sempre a minha intuição, nunca me senti a fazer o que não queria. Sim, fui muito feliz, sou e acho que continuarei a ser”.
20/07/2018
Cristina Ferreira
Cristina Ferreira