sexta-feira, 12 de abril de 2019

Cristina Ferreira - Crónicas II (12ABR2019)


Crónica 15.ª

(Caixa Alta S2 - 12ABR2019)




Gestores de topo portugueses ganham 52 vezes mais que trabalhadores é o título do artigo publicado no Esquerda.net no dia 9 de abril. Estes dados reportam-se a 2018 e dizem respeito ao vencimento médio dos líderes das maiores empresas portuguesas, mostrando que a desigualdade entre patrões e trabalhadores tem crescido ao longo desta década.


António Mexia continua a ser o executivo que mais ganha em Portugal.

Em 2018 os líderes das maiores empresas portuguesas ganharam 52 vezes mais que os seus trabalhadores.

Estes cálculos efetuados pelo Jornal de Notícias e Dinheiro vivo baseiam-se na análise dos vencimentos dos executivos das empresas do PSI20, a partir dos relatórios anuais de contas apresentados pelas mesmas.

Em média, os líderes das empresas do PSI20 ganharam em 2018 1,1 milhões de euros brutos — valor que inclui salários, prémios de desempenho e contribuições para planos de pensões. Apesar de um ligeiro recuo em relação ao ano anterior, este valor tem estado a subir: em 2014, há cinco anos, era de 700 mil euros, já então 33 vezes mais que o vencimento médio dos trabalhadores.

Entre 2010 e 2017, o salário dos patrões aumentou 50%

Entre 2010 e 2017, o salário dos patrões aumentou 50%. A desigualdade crescente dentro destas empresas deve-se, por um lado, ao aumento de vencimento dos quadros de topo, por outro lado à descida dos salários dos trabalhadores, seja essa descida relativa ou mesmo absoluta.

Desde 2014, as despesas com pessoal, ou seja, com os trabalhadores, estão estagnadas, e em 2018 tiveram mesmo um ligeiro recuo: cada empresa gastou em média 21 100 euros por trabalhador, em 2018 gastou 21 700. Estes valores dizem respeito não apenas a trabalhadores em Portugal, mas também no estrangeiro, onde as empresas do PSI20 também operam: metade dos postos de trabalho em análise são fora de Portugal.




10 mais ricos do país criam apenas 1,3% dos empregos

O campeão da desigualdade é a Jerónimo Martins: Pedro Soares dos Santos ganhou 1,9 milhões de euros, 140 vezes mais que os seus trabalhadores. Esta disparidade explica-se, em grande parte, com a vasta presença do grupo na Polónia, onde os salários dos trabalhadores são muito mais baixos. Se as empresas em média gastam 21 mil euros por trabalhador por ano, o grupo dos supermercados Pingo Doce gasta apenas 13,5 mil euros. É o que menos gasta em salários.

Rendimento dos presidentes executivos do PSI-20 aumentou 20%

A EDP tem em António Mexia o líder da empresa que mais ganha no país, 2,2 milhões de euros. Apesar de ficar acima de Soares dos Santos, Mexia ganha "apenas" 39 vezes mais que os seus trabalhadores, pois estes têm salários mais altos que os da Jerónimo Martins. Este "apenas" é enganador, pois a EDP é em todo o caso das empresas mais desiguais, onde a diferença entre patrões e trabalhadores é um múltiplo acima de 30.

Outros exemplos de empresas desiguais são a GALP pois Carlos Gomes da Silva ganha 35 vezes mais que os trabalhadores, a Semapa na qual João Castello Branco ganha 33 vezes mais, e na Sonae Paulo Azevedo só ganha 37 vezes mais.

O leque de desigualdade varia bastante e, não deixando de ser grande, é menor em empresas como a Corticeira Amorim pois António Rios só ganha 12 vezes mais que os trabalhadores e na REN, Rodrigo Costa, 8 vezes mais.

“A desigualdade salarial é negativa para a sociedade e para a economia”

Em setembro de 2018, o Bloco apresentou uma proposta para diminuir as desigualdades salariais em Portugal.




José Soeiro criticou o facto de Portugal ser “o quarto país da União Europeia com a maior desigualdade salarial”, e ilustrou alguns exemplos graficamente. 

Nos CTT, por exemplo, era preciso "uma lupa" para ver o que ganha um trabalhador ao pé do chefe, pois “um carteiro que ganhe 612 euros precisa de 106 anos para ganhar o mesmo que um gestor num ano”. 

Já no Pingo Doce era "preciso um microscópio, porque o trabalhador tem de trabalhar 345 anos para ganhar o que o gestor da mesma empresa ganha num ano”. 

A proposta para introduzir limites aos leques salariais das empresas foi rejeitada com os votos contra do PS, PSD e CDS. Se a desigualdade salarial é negativa para a sociedade e economia há que criar mecanismos de controlo e transparência para proteção doa trabalhadores, tendo, assim, por objetivo a correção destas situações que, em vez de retrocederem, avançam.
  



Caixa Alta, Rádio Castrense

Cristina Ferreira, 12/04/2019



Sem comentários:

Enviar um comentário