Hoje é o Dia Internacional
Contra a Homofobia, Bifobia e Transfobia, cuja sigla internacional é IDAHOBIT.
O medo e aversão irracionais que
caracterizam as fobias, são um estado mental desequilibrado que condicionam profundamente
a capacidade dos lesados, causando muitas vezes sérios riscos à sua saúde
mental, física ou mesmo social.
As fobias, do ponto de vista
clínico, têm tratamento e podem ser debeladas. Já as questões de orientação
sexual e identidade de género, não.
IDAHOBIT ou DICHOBIT -
portugalizando a sigla; é assinalado hoje internacionalmente, mas também nacionalmente,
com iniciativas na maior parte simbólicas, como o hastear da bandeira “arco-íris”,
que resulta das lutas das comunidades que se reveem nas reivindicações dos
direitos LGBTGI+.
Várias autarquias, muitas
delas com eleitos do Bloco de Esquerda, juntaram-se à iniciativa, e sem vergonha
mostraram solidariedade com esta luta ao hastear a bandeira LGBTQI+. Outras, por
razões diversas que nos escapam, mas ditas inclusivas, passaram ao lado, quiçá,
mais uma cedência ao conservadorismo político ou religioso.
Catarina
Martins considera inaceitável que se mantenha um decreto-lei que prevê apenas
questões de saúde sexual e reprodutiva para mulheres em idade fértil. Defendendo
que falamos de escolhas que “não são apenas das mulheres, são de todas as
pessoas”, o Bloco pretende mudar esta legislação.
À
margem de uma visita à Associação para o Planeamento da Família no Porto, a
coordenadora nacional do Bloco saudou a decisão do grupo de trabalho técnico no
sentido de recuar na sua proposta que visava incluir novos critérios de
avaliação para os profissionais de saúde. Em causa estava fazer com que os
médicos de família e os outros elementos das equipas fossem avaliados pelas
interrupções voluntárias da gravidez realizadas pelas utentes da sua lista e
pela existência de doenças sexualmente transmissíveis nas mulheres.
Questionada
sobre as declarações de Marta Temido, que afirmou não fazer "censura dos
trabalhos dos grupos técnicos", Catarina avançou que, “naturalmente, não
cabe a um ministro censurar o trabalho de um grupo técnico. Agora, na verdade,
que o trabalho do grupo técnico venha a ser lei ou venha a ser aplicado ou não,
essa sim é uma decisão política”.
“Eu
julgo que a ministra da Saúde podia, aliás, ter feito essa clarificação e
acabar com indicadores que ofendem as mulheres, mas também ofendem os médicos,
os profissionais de saúde, rapidamente”, continuou a dirigente bloquista.
De
qualquer forma, Catarina assinalou que “a ministra da Saúde chamou a atenção
para um facto que nos pareceu relevante na audição: disse-nos que os
indicadores, que, no que diz respeito à saúde sexual e reprodutiva, aparecem,
essencialmente, sempre como uma forma de controlar comportamentos ou o corpo
das mulheres, tinham origem num decreto-lei que prevê apenas questões de saúde
sexual e reprodutiva para mulheres em idade fértil”.
Decreto-lei
é "profundamente patriarcal e profundamente errado"
“Ou
seja, há um decreto-lei de origem sobre os incentivos dos médicos de famílias
nas unidades de saúde familiar que é já profundamente patriarcal e
profundamente errado, porque faz de conta que as questões de saúde sexual e
reprodutiva são só questões de mulheres e em idade fértil”, explicou a
coordenadora do Bloco.
Defendendo
que “as questões das escolhas de reprodução não são apenas das mulheres, são de
todas as pessoas” e que “as questões da saúde sexual não são só de pessoas em
idade fértil, são de pessoas que são sexualmente ativas, mesmo que já não estejam
em idade fértil”, o Bloco propõe alterar esta legislação.
O que
o partido pretende é que, “a partir de agora, os incentivos aos médicos de
família sejam sobre consultas de saúde sexual e reprodutiva dirigidas a todas
as pessoas em idade fértil e a todas as pessoas sexualmente ativas mesmo que
não em idade fértil”.
“Até
porque isso é um direito das pessoas mais velhas a usufruírem da sua
sexualidade, mas também uma questão fundamental de saúde pública, nomeadamente
no controlo de doenças sexualmente transmissíveis”, frisou Catarina.
“A
proposta que fazemos é, em vez de encolhermos os ombros face a uma legislação
errada e retrógrada, mudemos a legislação, e assim podemos garantir o respeito
pela saúde e pelos direitos de todas as pessoas”, reforçou.
Catarina
Martins alertou ainda que manter uma “visão patriarcal e bafienta da saúde
sexual e reprodutiva ataca não só os direitos de cada pessoa ao longo da sua
vida, como é também um entrave a medidas de saúde pública”.
Catarina
Martins lembrou que os preços já subiram quatro vezes mais do que os salários
e, como não são atualizados à inflação, continuam a encolher. A coordenadora do
Bloco alertou ainda que esta quebra real de rendimentos se estende a toda a
economia.
“Se
bem me lembro, o que António Costa prometia na campanha eleitoral era uma
melhoria de rendimentos. Aqui chegados, temos um Orçamento que, como o ministro
das Finanças já reconheceu, tem quebra real de salários, quebra real de pensões
e de outras prestações sociais”, afirmou Catarina na sessão plenária da
Assembleia da República.
A
dirigente bloquista referiu que as medidas apresentadas pelo executivo “já
estavam previstas antes deste ciclo de inflação”, e nem sequer foram ajustadas
à realidade que estamos a viver.
Acresce
que o que o Governo “promete como grande medida, que é a baixa de Imposto Sobre
Produtos Petrolíferos, é, de facto, apenas o Governo a abdicar de uma pequena
parcela do brutal aumento de receita que terá com este ciclo de inflação”.
Catarina
Martins afirmou ainda que PS e PSD falam muito em “contas certas”, mas “nem se
aperceberam que nos investimentos estruturantes há uma revisão em baixa do
primeiro documento para este Orçamento do Estado”. É o que acontece, por
exemplo, na Saúde, com a verba a baixar de 251 milhões para 115 milhões de
euros.
“A
questão é que os preços já subiram quatro vezes mais do que os salários e, como
não são atualizados à inflação, continuam a encolher. E ainda que acreditemos
que esta inflação é transitória, o que o Governo aqui nos propõe é uma quebra
real permanente de salários e de pensões”, continuou a coordenadora do Bloco.
“É
absolutamente incompreensível que o governo não queira mexer nos salários” pois
usando as “previsões otimistas do executivo”, Catarina ilustrou a quebra de
rendimentos. Um trabalhador que ganhe 1250 euros, para não perder rendimento
face à inflação, precisava de uma atualização de 50 euros por mês. Contudo, o
Governo propõe um aumento no Estado, e que é um “sinal para o privado”, de 11,25
euros. Isto implica que o trabalhador no final do ano tem uma quebra salarial
real de 542,5 euros. Já um pensionista com um aumento extraordinário de 10
euros, e que receba uma pensão de 1000 euros, acaba por perder 420 euros num
ano. O corte é real “mesmo para os mais pobres dos pobres”: de acordo com um
estudo da Universidade Nova, seria preciso um apoio mensal de 40 euros, ou
seja, 480 euros por ano, para os mais fragilizados. Ao invés disso, o executivo
anunciou 60 euros para todo o ano, o equivalente a 5 euros por mês. E não
atualiza o Indexante dos Apoios Sociais (IAS) à taxa da inflação.
“A
obstinação do PS em manter as leis laborais da troika enfraqueceu os mecanismos
de atualização dos salários no setor privado e a decisão de quebra de salários
no setor público é a desculpa que os patrões esperavam para impor quebra de
salários em toda a economia. Aliás, os representantes dos patrões, através da
CIP, já vieram dizer que era o que mais faltava mexer nos salários para
responder à inflação. E, para isso, pediram emprestado o mantra que o Governo
tem vindo a repetir: prudência”, avançou a dirigente do Bloco.
E
enquanto o Governo e os patrões “se unem no refrão que vai condenando os
salários de quem trabalha, os administradores das maiores empresas portuguesas
aumentaram os seus próprios rendimentos em 90%, fora os lucros entregues aos
acionistas. Aí já não há prudência que nos valha”, acrescentou.
Catarina
Martins deixou uma questão ao Governo: Se este reconhece que “os preços não vão
baixar e os salários e pensões não são atualizados à inflação, como é que se
pode concluir outra coisa deste Orçamento que não uma opção do governo do
Partido Socialista pela queda permanente e real de salários em Portugal?”.
Falar do 1º de maio, Dia do
Trabalhador, é falar de lutas seculares das classes trabalhadoras. É recordar as
conquistas alcançadas. É reforçar a esperança de irmos mais além nos direitos
dos trabalhadores. É compreender os novos desafios, sem esquecer os antigos. É
combater todos eles com veemência e pujante determinação.
As rápidas transformações,
proporcionadas pelas novas tecnologias, proporcionaram igualmente a
transformação das relações laborais. A Uberização dos serviços à tarefa, a
indústria 4.0, o teletrabalho e muitos outros conceitos laborais modernos, são exemplos
dessa transformação.
Neste Dia do Trabalhador,
gostaria de recordar e trazer para 2022 o emblemático texto de José Mário
Branco, F.M.I., criado em 1979 e por si apresentado no Teatro Aberto LISBOA no Dia
do Trabalhador de 1981.
F.M.I.
(José
Mário Branco)
(Introdução)
“ Vou,
vou-vos mostrar / Mais um pedaço da minha vida / Um pedaço um pouco especial / Trata-se
de um texto que foi escrito / Assim, de um só jorro / Numa noite de Fevereiro
de 79 / E que talvez tenha um ou outro pormenor / Que já não é muito actual / Eu
vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura / Sem ter
modificado nada / Por isso vos peço que não se deixem distrair por esses
pormenores / Que possam ser já não muito actuais / E que isso não contribua
para desviar a vossa atenção / Do que me parece ser o essencial neste texto / Chama-se
FMI / Quer dizer, Fundo Monetário Internacional / Não sei porque é que se riem
/ É uma organização democrática dos países todos
Que se
reúnem, como as pessoas / Em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos /
E no fim tomar as decisões que interessam a todos / É o internacionalismo
monetário
(Canção
/ Texto performativo)
Cachucho
não é coisa que me traga a mim
Mais
novidade do que lagostim
Nariz
que reconhece o cheiro do pilim
Distingue
bem o Mortimor do Meirim
A
produtividade, ora aí está, quer dizer
Há
tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar
por aí a dentro, analisar, e então
Do meu
'attaché-case' sai a solução!
FMI
Não há graça que não faça o FMI
FMI O
bombástico de plástico para si
FMI
Não há força que retorça o FMI
Discreto
e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a
imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio
uma gravata em cada fato-macaco
E meto
o pessoal todo no mesmo saco
A
produtividade, ora aí está, quer dizer
Não
ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo
o pé na casa, espanador na mão
É só
desinfectar em superprodução!
FMI
Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O
heróico paranóico hara-kiri
FMI
Panegírico, pro-lírico daqui
Palavras,
palavras, palavras e não só
Palavras
para si e palavras para dó
A
contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois
a criadagem lava o pé e limpa o pó
A
produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre
atentas
E
levas pela tromba se não te pões a pau
Num
encontrão imediato do 3º grau
FMI
Não há lenha que detenha o FMI
FMI
Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI
Entretém-te
filho, entretém-te
Não
desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer
Mal-te-quer,
vem-te-quer, ovomalt'e-quer
Messe
gigantesca, vem-te vindo, VIM na cozinha, VIM na casa-de-banho
VIM no
Politeama, VIM no Águia D'ouro, VIM em toda a parte, vem-te filho
Vem-te
comer ao olho, vem-te comer à mão
Olha
os pombinhos pneumáticos que te arrulham por esses cartazes fora
Olha a
Música no Coração da Indira Gandi
Olha o
Moshe Dayan que te traz debaixo d'olho
O
respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho?
Nós
somos um povo de respeitinho muito lindo
Saímos
à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas
certas, né filho?
Consolida
filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o
malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde
Consolida
filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo
O teu
trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos
Como o
Astro, não é filho?
O
cabrão do Astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças,
vais dormir entretido, não é?
Pois
claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar
Para
ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta
destabilização filha-da-puta, não é filho?
Pois
claro!
Estás
aí a olhar para mim
Estás
a ver-me dar 33 voltinhas por minuto
Pagaste
o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os
teus zodíacos:
Este
tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é?
Né
filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente?
A ti
não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote!
Meu
Fernão Mendes Pinto de merda, né filho?
Onde
está o teu Extremo Oriente, filho?
A-ni-ki-bé-bé,
a-ni-ki-bó-bó
Tu és
Sepúlveda, tu és Adamastor, pois claro
Tu
sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é
filho?
Mal
eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida!
Entretém-te
filho, entretém-te!
Deixa-te
de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da
Silva,
E
salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para
aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala em ritmo de pop-chula, não é
filho?
A one,
a two, a one two three
FMI
dida didadi dadi dadi da didi
FMI
Come
on you son of a bitch!
Come
on baby a ver se me comes!
'Camóne'
Luís Vaz, amanda-lhe com os decassílabos que eles já vão saber o que é
meterem-se com uma nação de poetas!
E zás,
enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares
Zás,
enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal
Zás,
enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro
Zás,
enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros
Zás,
enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer
E
acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano
A
estender o braço
Meio
Rolão Preto, meio Steve McQueen
Ok
boss, tudo ok
Estamos
numa porreira meu
Um
tripe fenomenal
Proibido
voltar atrás
Viva a
liberdade, né filho?
Pois,
o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho
Pluralismo
a dar com um pau, nada será como dantes
Agora
todos se chateiam de outra maneira, né filho?
Ora
que porra, deixa lá correr o marfil, homem, andas numa alta, pá, é assim mesmo
Cada
um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é?
Preocupações,
crises políticas pá?
A
culpa é dos partidos pá!
Esta
merda dos partidos é que divide a malta pá
Pois
pá, é só paleio pá
O
pessoal na quer é trabalhar pá!
Razão
tem o Jaime Neves pá!
Olha
deixaste cair as chaves do carro!
Pois
pá!
Que é
essa orelha de preto que tens no porta-chaves?
É pá,
deixa-te disso, não destabilizes pá!
Eh,
faz favor, mais uma bica e um pastel de nata
Uma
porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril
Esta
confusão pá, a malta estava sossegadinha
A bica
a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa
Tá
bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo
Mas no
fim de contas quem é que não colaborava, ah?
Quantos
bufos é que não havia nesta merda deste país, ah?
Quem é
que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se
chama arriscar, ah?
Meia
dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o
estrangeiro, pá
Isto é
tudo a mesma carneirada!
Oh sr.
guarda venha cá, á
Venha
ver o que isto é, é
O
barulho que vai aqui, i
O neto
a bater na avó, ó
Deu-lhe
um pontapé no cu, né filho?
Tu
vais conversando, conversando
Que ao
menos agora pode-se falar
Ou já
não se pode?
Ou já
começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah?
Estás
desiludido com as promessas de Abril, né?
As
conquistas de Abril!
Eram
só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho,
né filho?
E tu
fizeste como o avestruz
Enfiaste
a cabeça na areia
Não é
nada comigo, não é nada comigo, né?
E os
da frente que se lixem
E é
por isso que a tua solução é não ver
é não
ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada
Precisas
de paz de consciência
Não
andas aqui a brincar, né filho?
Precisas
de ter razão
Precisas
de atirar as culpas para cima de alguém
E
atiras as culpas para os da frente
Para
os do 25 de Abril
Para
os do 28 de Setembro
Para
os do 11 de Março
Para
os do 25 de Novembro
Para
os do... que dia é hoje, ah?
FMI
Dida didadi dadi dadi da didi
FMI
Não há
português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho?
Todos
temos culpas no cartório
Foi
isso que te ensinaram
Não é
verdade?
Esta
merda não anda
Porque
a malta, pá
A
malta não quer que esta merda ande
Tenho
dito
A
culpa é de todos
A
culpa não é de ninguém
Não é
isto verdade?
Quer-se
dizer
Há culpa
de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita
bons no fundo, né?
Somos
todos uma nação de pecadores e de vendidos, né?
Somos
todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas
Estas
coisas até já nem querem dizer nada
Ismos
para aqui
Ismos
para acolá
As
palavras é só bolinhas de sabão
Parole
parole parole e o Zé é que se lixa
Cá o
pintas é sempre o mexilhão
Eu
quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol
Pronto
Viva o
Porto, viva o Benfica! Lourosa! Lourosa! Marrazes! Marrazes!
Fora o
arbitro, gatuno! Qual gatuno, qual caralho!
Razão
tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho?
Entretém-te
filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs
Que o
teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores
Entretém-te,
que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais
Entretém-te
filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho
Entretém-te,
que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar
Entretém-te,
que o FMI trata da saúde ao Eanes
Entretém-te
filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a
pensar em tudo neste mesmo instante
Enquanto
tu adormeces a não pensar em nada
Milhares
e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia
secreta
Telefones,
carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá!
Podes
estar descansado que o Teng Hsiao-ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter
O
Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II
Tudo
corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais
produzir amanhã nas tuas oito horas
A ver
quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário
perde valor todos os dias
Ou de
te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de
S. Pedro de Moel
Que se
some nas areias em plena praia
Ali a
10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se
possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou!
Vão te
convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a
ver com isso, não é filho?
Cada
um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é?
Tu
fazes como os outros, fazes o que tens a fazer
Votas
à esquerda moderada nas sindicais
Votas
no centro moderado nas deputais
E
votas na direita moderada nas presidenciais!
Que
mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?!
Era o
que faltava!
É
assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma
Para
safado, safado e meio, né filho?
Nem
para a frente nem para trás
E eles
que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né?
Claro!
Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega
Entretém-te
meu anjinho, entretém-te
Que
eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti,
decidem tudo por ti
Se
hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia
Se
hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que
eles tratam disso
Se
hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos
Ou
hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo!
Descansa,
não penses em mais nada
Que
até neste país de pelintras se acho normal
Haver
mãos desempregadas
E se
acha inevitável haver terras por cultivar!
Descontrai
baby, come on descontrai
Afinfa-lhe
o Bruce Lee
Afinfa-lhe
a macrobiótica
O
biorritmo, o hoscópio
Dois
ou três ovniologistas
Um
gigante da ilha de Páscoa
E uma
Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas!
Piramiza
filho, piramiza
Antes
que os chatos fujam todos para o Egipto
Que
assim é que tu te fazes um homenzinho
E até
já pagas multa se não fores ao recenseamento
Pois
pá, isto é um país de analfabetos, pá!
Dá-lhe
no Travolta
Dá-lhe
no disco-sound
Dá-lhe
no pop-chula
Pop-chula
pop-chula
Iehh
iehh
J.
Pimenta forever!
Quanto
menos souberes a quantas andas melhor para ti
Não te
chega para o bife?
Antes no
talho do que na farmácia
Não te
chega para a farmácia?
Antes
na farmácia do que no tribunal
Não te
chega para o tribunal?
Antes
a multa do que a morte
Não te
chega para o cangalheiro?
Antes
para a cova do que para não sei quem que há-de vir
Cabrões
de vindouros, ah?
Sempre
a merda do futuro, a merda do futuro
E eu
ah? Que é que eu ando aqui a fazer?
Digam
lá, e eu?
José
Mário Branco, 37 anos
Isto é
que é uma porra
Anda
aqui um gajo cheio de boas intenções
A
pregar aos peixinhos
A
arriscar o pêlo, e depois?
É só
porrada e mal viver é?
O
menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês'
O
menino pertence a uma classe sem futuro histórico
Eu sou
parvo ou quê?
Quero
ser feliz porra
Quero
ser feliz agora
Que se
foda o futuro
Que se
foda o progresso
Mais
vale só do que mal acompanhado
Vá
mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa
Filhos
da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos!
Deixem-me
em paz porra, deixem-me em paz e sossego
Não me
emprenhem mais pelos ouvidos caralho
Não há
paciência
Não há
paciência
Deixem-me
em paz caralho
Saiam
daqui
Deixem-me
sozinho, só um minuto
Vão
vender jornais e governos e greves e sindicatos e polícias e generais para o
raio que vos parta!
Deixem-me
sozinho
Filhos
da puta
Deixem
só um bocadinho
Deixem-me
só para sempre
Tratem
da vossa vida que eu trato da minha
Pronto,
já chega
Sossego
porra
Silêncio
porra
Deixem-me
só, deixem-me só, deixem-me só
Deixem-me
morrer descansado
Eu
quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado
Eu
quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto
Eu
quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro
E o
Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa
Deixem-me
só porra, rua, larguem-me
Desopila
o fígado, arreda, T'arrenego Satanás, filhos da puta
Eu
quero morrer sozinho ouviram?
Eu
quero morrer
Eu
quero que se foda o FMI
Eu
quero lá saber do FMI
Eu
quero que o FMI se foda
Eu
quero lá saber que o FMI me foda a mim
Eu vou
mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto
Bardamerda
o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões
O FMI
não existe
O FMI
nunca aterrou na Portela coisa nenhuma
O FMI
é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio
Rua,
desandem daqui para fora
A
culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é
vossa, a culpa é vossa