sexta-feira, 27 de março de 2020

Cristina Ferreira - Crónicas III (27MAR2020)




USOS E ABUSOS NO CONTEXTO DA CRISE EPIDEMIOLÓGICA


Muito se tem falado sobre a crise sanitária que vivemos presentemente. O surto viral COVID-19, identificado primeiramente na China, espalhou-se por diversos países do mundo e infelizmente, também chegou às nossas portas. Traz consigo o desalento e a incerteza, e porque é novo, a frustração motivada pela incapacidade de o debelar tal como uma gripe comum.

O desalento, a incerteza a frustração no contexto COVID-19 não se sente apenas no plano da saúde, faz-se sentir também em muitas outras dimensões da nossa vida pessoal, comunitária, económica ou laboral, e far-se-á sentir muito, certamente, para além do quadro de pandemia atual.

De um momento para o outro as nossas rotinas foram alteradas, fossem essas alterações impostas por decreto, ou para cumprimento voluntário das recomendações das autoridades, ou simplesmente porque de um momento para outro tornaram-se vítimas do chico-espertismo de outros.

Quero aqui focar-me nas situações de chico-espertismos que, de certa forma, todos e todas nós conseguimos identificar, desde o mais simples açambarcamento de produtos essenciais nos supermercados, mercearias e superfícies comerciais equivalentes, ao oportunismo patronal que à boleia do que se está a passar, simplesmente descarta-se dos trabalhadores que trabalham para si.

Certamente, cada um de nós tem o dever de se manter em isolamento social, para tal deve constituir um pequeno armazenamento de bens de primeira necessidade para evitar o mais possível sair do seu espaço de isolamento. Como em tudo, o ponto de equilíbrio está em definir que quantidades necessita para fazer face a esse isolamento. Talvez antes da crise o ouvinte já tivesse por hábito adquirir bens essenciais para uma semana deixando para o dia-a-dia produtos alimentares com validade mais curta, por exemplo o pão. É uma rotina que pode manter, desde que observe preceitos de higiene recomendada ao deslocar-se aos locais onde costuma fazer compras. Nesta mesma situação o chico-esperto ou a chica-esperta, tende a fazer de forma diferente, açambarcando tudo quanto a sua condição financeira permita, mesmo que isso o leve a perder parte dos produtos que adquiriu, por não os consumir no prazo. Esta é uma atitude que conduz a duas outras coisas. A primeira é a escassez temporária de produtos porque os produtores e distribuidores não os conseguem repor atempadamente. A segunda é o chico-espertismo dos comerciantes, que se aproveitam da demanda irracional e inflacionam o preço dos produtos.

Os comerciantes, empreendedores, empresários ou qualquer outro nome que designe quem tem algum bem para vender, principalmente bens essenciais, muitos deles veem esta crise como uma oportunidade para sacar mais uns cobres a quem deles precisa. É a regra de mercado, dizem. Se tem muita procura: aumenta-se o preço. Se é escasso, aumenta-se também, porque agora tem mais valor. Assim, o chico e a chica espertos que são, contribuem para que se generalize o pânico nos consumidores: uns acabam por cair no açambarcamento e outros na frustração de não ter recursos financeiros para adquirir esses mesmos bens. Todos e todas nós conhecemos algumas situações gritantes, por exemplo as caixas de máscaras em determinada superfície comercial que passaram a custar 150€, o equivalente ao que muitas famílias têm orçamentado para a sua alimentação num mês, ou ainda desinfetante para as mãos que de 2, 3 ou menos euros passaram a ter um preço 10 vezes ou mais caro.

Mas o chico-espertismo não se fica por aqui, nas relações comerciais. Existe também nas relações laborais. Por recomendação da DGS, ou por decreto, algumas empresas estão ou deveriam estar encerradas, outras estão a funcionar com significativas alterações na sua organização e à boleia das medidas aprovadas, os chicos e as chicas espertas da classe patronal, de um momento para o outro iniciaram processos de despedimentos, gozo de férias e toda uma panóplia de ações que, aliviando do fardo salarial, acrescenta crise à crise. Os trabalhadores em regimes precários são as primeiras vítimas destes processos, mas no fundo, quando milhares de trabalhadores são descartados desta forma, a crise social e laboral assim gerada, acaba por bater à porta de todos nós, a mim que estou aqui e a si que me está a ouvir desse lado. Tomemos como exemplo a suspensão dos projetos que, aqui ao lado, em Neves-Corvo mantinham a trabalhar um contingente de cerca 1200 trabalhadores de empresas contratadas para os desenvolver. Muitos destes trabalhadores, por não terem outra opção, vendiam a sua força de trabalho com vínculos precários, contratos de curta duração sucessivamente “renovados” à margem da lei, ou de trabalho temporário, ou outros vínculos de criatividade tal que nem consigo alcançar. Faço uma ou duas perguntas: Quantos destes trabalhadores estão agora no desemprego e quantos vão lá chegar brevemente? Qual o peso de 1000 ou 1200 trabalhadores na economia da região? Afinal tenho uma terceira pergunta: sobre quem vai cair essa fatura?

O certo é que os chicos e as chicas espertas vão-se aproveitando da melhor forma que sabem e até da que não sabem e inventam, isto porque estão respaldados em leis confusas, permissivas e cada vez menos protetoras da parte mais fraca que é o trabalhador.

É por isso urgente estabelecer medidas para proteger o emprego e salvaguardar os rendimentos dos trabalhadores e trabalhadoras.

Vivemos tempos excecionais que exigem respostas excecionais. O Bloco de Esquerda apresentou algumas propostas, que vos trouxe aqui na passada semana, mas porque a tempos excecionais correspondem também desafios excecionais, decidiu dar visibilidade às muitas denúncias que lhe chegam, tendo criado para esse fim a plataforma DESPEDIMENTOS.PT

Tal como na plataforma de informação do Ministério da Saúde:




se mostram os dados da evolução da epidemia em Portugal, na plataforma recém-criada pelo Bloco:




são mostrados os abusos e a irresponsabilidade daqueles que, aproveitando a crise, abusam dos trabalhadores. Até ao momento foi identificado um caso no distrito de Beja, mas infelizmente, temos a perceção que muitos mais poderiam estar ali assinalados. Cabe-lhe a si, ouvinte e trabalhador lesado denunciar.

O acesso à plataforma WWW.DESPEDIMENTOS.PT é público e não carece de vinculação à estrutura. As ocorrências reportadas em formulário eletrónico próprio são anónimas, salvaguardando assim o seu autor.

Resta a todos e todas seguir as recomendações da Direção Geral de Saúde à letra e a todos e todas, compete estar atento aos comportamentos sociais, laborais e económicos que não o respeitem.




Cristina Ferreira/Filipe M Santos, 27/03/2020




sexta-feira, 20 de março de 2020

Cristina Ferreira - Crónicas III (20MAR2020)




Bloco apresenta propostas para responder à crise do COVID-19


O Bloco de Esquerda apresenta um conjunto medidas excecionais e temporárias de resposta à crise epidemiológica e económica que estamos a viver. Pedro Filipe Soares afirma que são necessárias “medidas urgentes para proteger o emprego e salvaguardar os rendimentos dos trabalhadores e das trabalhadoras”.

Assim aponta três preocupações em particular a que devem ser dadas respostas"
  • Propostas apresentadas pelo Bloco de Esquerda

São propostas a suspensão dos despedimentos durante o período da crise epidemiológica, para proteger o emprego num momento essencial.

São corrigidas algumas insuficiências das propostas do Governo, protegendo os trabalhadores de grupos de risco com o direito ao teletrabalho ou à dispensa de serviço, é alargado o apoio excecional para situações de trabalhadores com mais do que um filho com menos de 12 anos e alterado o regime de Lay Off pelo que não irá prejudicar resultar na privação do direito a férias dos trabalhadores.

Solicita-se a “Prorrogação do período de concessão das prestações de desemprego por 3 meses, onde se inclui subsídio de desemprego, subsídio social de desemprego inicial, subsídio de desemprego parcial e subsídio social de desemprego”, sublinha o líder parlamentar bloquista.

Em segundo lugar, garantir direitos e proteger as pessoas.

“Considera-se que neste momento de crise se deve garantir os direitos fundamentais como o direito à habitação, suspender os despejos e criando moratórias ao crédito de habitação própria e ao pagamento de renda para pessoas que perderam bruscamente o seu rendimento”, salienta o líder parlamentar bloquista.

Em terceiro lugar, defender os serviços de saúde.

“Mobilizar todos os recurso e meios para garantir a resposta do SNS. Para isso, permitir ao governo a possibilidade de recorrer aos privados para a capacidade produtiva e o reforço de profissionais”, afirma Pedro Filipe Soares.

Para Catarina Martins “O estado de emergência não deve suspender a democracia e os direitos”

Admite-se o recurso ao estado de emergência de forma a “chamar à responsabilidade” quem “se aproveita da crise”. Este não deve servir para suspender direitos e deverá ser revisto dentro de duas semanas.

No debate parlamentar sobre a declaração do estado de emergência na sequência do surto de COVID-19, a coordenadora do Bloco sublinhou “a impreparação de todo o mundo perante um vírus que não conhece fronteiras e contra o qual não temos ainda armas eficazes”. “Estamos a viver uma crise inédita e que causa natural alarme”, reiterou.

Catarina Martins fez também questão de manifestar preocupação perante o aumento do número de infetados, deixando “votos de rápida recuperação de todos os que estão doentes”, e pesar face à notícia de que há vítimas mortais em Portugal, sublinhando a solidariedade “com a dor das suas famílias e amigos”.

A dirigente bloquista pensa que “em todo o país” está a ser dada uma “resposta inédita” a esta situação. Por isso, agradeceu aos profissionais de saúde, pelo seu trabalho, à generalidade da população, por seguir “de forma exemplar as orientações da Direção Geral de Saúde”, às forças de seguranças e aos trabalhadores dos setores público e privado, “que garantem o funcionamento de serviços essenciais” e às pessoas em vigilância e isolamento profilático.

Para Catarina Martins estas atitudes são motivo de orgulho de um país que manteve “o essencial”: “a serenidade pública e uma profunda mudança de comportamentos, tal como recomendado pelas autoridades de saúde”.

Mas o orgulho pela forma como o país tem respondido à crise, não esconde “que pode haver quem não esteja à altura do momento e até quem se tente aproveitar da crise”. 

Referia-se à “vaga de despedimentos de trabalhadores precários”, ao “abuso laboral de algumas empresas que arriscam irresponsavelmente a saúde dos trabalhadores, recusam planos de contingência e até a proteção dos grupos de risco”, à “vampirização do Serviço Nacional de Saúde pelo negócio privado da saúde que se fecha na resposta à crise na esperança de vir a ter as contratualizações dos casos mais simples a que o SNS não pode responder agora”, às empresas que “produzem material essencial ao país neste momento - desde logo máscaras e equipamentos de proteção individual - e optam pela exportação”.

O Bloco julga que estes “têm de ser chamados à responsabilidade” e que “o governo tem de agir” porque “não podemos tolerar quem se aproveita da crise”. E, no seu entender, é “para isso - e só para isso - que deve servir o Estado de Emergência”.

O partido adverte, no entanto, que, no prazo de duas semanas, “cá estaremos para avaliar os termos da sua aplicação”. E avisa que o estado de emergência - excecional e transitório - “não deve servir para suspender a democracia nem direitos essenciais”.

Este será tempo suficiente para o governo “criar e impor os mecanismos de contingência que protegem a saúde dos trabalhadores, de requisição do setor privado da saúde, de reforço da produção industrial essencial”, sendo prioridade “garantir a resposta do SNS e apoiar os seus profissionais” e, “simultaneamente, pensar nas pessoas e nos seus rendimentos”.

O Bloco de Esquerda quer o “reconhecimento da emergência sanitária e da emergência económica e social” que leve à implementação de um conjunto de primeiras medidas de que faz parte “proibir despedimentos, despejos e cortes de luz, gás, água e comunicações e suspender prestações de crédito à habitação e rendas de casa às pessoas que tenham os seus rendimentos gravemente diminuídos”.

A dirigente do Bloco esclareceu que este tipo de medidas está em preparação ou já foram adotadas em vários países europeus.

Para além disto, Catarina Martins insiste que é preciso “ajudar a economia e criar pacotes de apoio e financiamento que mantenham a produção e o emprego”, sublinhando “a modéstia do pacote anunciado pelo governo português, em percentagem do produto, quando comparado com o de outros países, a começar pela Espanha”.

Sabendo que “a pandemia traz com ela uma crise económica” será ainda preciso “não repetir os erros cometidos na resposta à crise anterior”. Desta forma, é necessário “proteger o emprego” para “proteger o país” o que torna urgente “parar os despedimentos”, “condição para podermos enfrentar a dinâmica recessiva que se instalará”.

Catarina Martins concluiu salientando que “o país está a mostrar o seu melhor na solidariedade cidadã e no civismo demonstrado” e que “temos longas semanas ou meses - em condições adversas - para continuar a dar uma resposta que a todos trate com dignidade”. “Será com responsabilidade, determinação e solidariedade que ultrapassaremos esta crise”, concluiu.


Caixa Alta, Rádio Castrense

Cristina Ferreira, 20/03/2020

sexta-feira, 13 de março de 2020

Cristina Ferreira - Crónicas III (13MAR2020)




Estar consciente, para salvar o ambiente!
- Greve Climática Estudantil

Rafael Costa, mandatário da juventude pelo Bloco de Esquerda no distrito de Beja, apresenta uma reflexão sobre a atualidade, nomeadamente sobre as alterações climáticas, respetivas implicações e responsabilidades tanto a nível individual como coletivo, pois deve-se Estar consciente, para salvar o ambiente!
Soubemos que a Greve Climática Estudantil que se realizaria hoje, dia 13 de março, a nível nacional foi cancelada. Efetivamente, esta foi a medida correta tendo em conta o surto de Covid-19, vulgo Coronavírus, entretanto já considerada uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde. Tendo presentes todas as recomendações, tanto nacionais como internacionais, e em nome da segurança e saúde pública, esta importante Greve realizar-se-á numa data posterior. Ainda assim, está convocada para amanhã uma Greve Climática Digital, através da partilha de fotos de cartazes na Internet. Espero que permita um grande alcance e não deixe os utilizadores indiferentes.
Mas que toda esta situação não nos faça esquecer as questões climáticas, que não nos retire o foco de um assunto tão importante. Se há vítimas deste novo vírus, também há muitas vítimas das alterações climáticas, que dão origem a refugiados, à destruição de ecossistemas, à morte de muitas espécies. A crise climática é também ela muito preocupante, muito séria e não é uma situação nova. Tem vindo a arrastar-se e a fazer milhares de vítimas.
Bem sabemos que tudo isto passa ao lado dos dirigentes políticos a nível internacional, que por conta dos interesses económicos, permitem o agravar de uma situação que pode condenar-nos o futuro. As questões ambientais devem preocupar-nos bastante, enquanto jovens. O que não aceitamos é que os mais velhos, sem perspetivas de futuro, consigam ter a coragem de aniquilar o nosso, de destruir o dia de amanhã dos seus filhos e netos. Não podemos aceitar. Também sabemos que Não há planeta B… e se quem tem poder para implementar reais medidas que permitam alterações e evoluções prefere ignorar e nada fazer, lamento informar que não nos representam. O ambiente tem sido um dos principais campos de ação do Bloco de Esquerda, ninguém pode ficar indiferente e é necessário exigir mudanças. E é por isso também que, desde o primeiro dia, o Bloco de Esquerda tem manifestado total apoio à Greve Climática Estudantil, reconhecendo a sua importância e o seu papel a nível mundial na pressão política e exigência de respostas.
É urgente que exista a coragem para que os vários Estados se unam, não apenas na declaração do estado de emergência climática, mas também através de medidas concretas, como a substituição dos combustíveis fósseis por energias renováveis, fomentando e facilitando o acesso a meios de transporte públicos que não poluam.
Não nos tentem convencer de que todos os problemas ambientais se resolvem com alterações nos comportamentos individuais. É verdade que é muito importante ações como reciclar, reutilizar, não desperdiçar, não gastar sem necessidade (por exemplo, não utilizando plásticos). E com certeza é uma boa ajuda. Só que não podem vir os dirigentes e os responsáveis por tudo isto (que nem olham ao ambiente pela cegueira do dinheiro), dizer-nos que não está nas suas mãos resolver esta crise.
Em Portugal, há muito a fazer. E o mais preocupante é que o assunto principal parece ser a possibilidade de construção de um novo aeroporto no Montijo, quando permanece em Beja um condenado ao abandono. Aliás, parece a prioridade estar no investimento em meios de transporte poluentes. Outra praga que assistimos, principalmente no Alentejo, são as monoculturas intensivas de olival e amendoal, que recorrem à utilização de fitofármacos, que envenenam os solos e contaminam cursos de água. Já para não falar no desperdício de recursos, até hídricos, para sustentar culturas em que a qualidade do produto deixa muito a desejar.
A própria União Europeia, que deveria ter uma responsabilidade acrescida nesta matéria, vai adiando a neutralidade carbónica para 2050 e atrasando medidas essenciais no combate às alterações climáticas. Mas se realmente se está a discutir uma Lei Climática, pode agradecer-se ao corajoso trabalho da jovem ativista Greta Thunberg, que conseguiu mobilizar gerações de jovens e sensibilizar muitas pessoas para todos estes problemas. E, dessa forma, também teve importância simbólica a sua passagem por Portugal. Só que a União Europeia também deve ter o papel fulcral de apoiar os países com mais dificuldades, nomeadamente no investimento em energias renováveis. Portugal tem vindo, ao longo do tempo, a desenvolvê-las, nomeadamente a energia solar, eólica e hídrica e tem condições naturais que permitem fazer mais e melhor, aumentando também a própria eficiência.
Continua a fazer-me confusão como se colocam os interesses económicos acima dos interesses do planeta. Provavelmente fingem esquecer-se de que sem este planeta, de nada serve o dinheiro. E depois? Pretendem habitar em Marte, para iniciar uma nova destruição? Nada pode ser mais perigoso do que as vozes céticas que olham para tudo isto como uma invenção. As vozes que não respeitam a ciência e descredibilizam o trabalho daqueles que alertam para o pior. Mas… culpados? Realmente há muitos. Principalmente os responsáveis pela exploração dos produtos altamente poluentes, bem como dos que produzem desenfreadamente produtos descartáveis, supérfluos, sem durabilidade, mas que alimentam a sede capitalista do consumismo.
Estes discursos são muito alimentados por Donald Trump, e até Jair Bolsonaro, que insistentemente teimam em retirar o mérito às associações que procuram a preservação do ambiente. Vejamos a grande potência que são os EUA, que concentram nas suas mãos muitas das decisões importantes… e depois olhamos para um Presidente que desmente as alterações climáticas, ou o aquecimento global, logo através da saída do Acordo de Paris.
Olho para a minha geração e para as gerações mais consciencializadas relativamente às questões ambientais e consigo depositar alguma esperança na Humanidade. Mas se tudo se mantiver igual, temo que seja tarde demais. Temo que seja impossível reverter esta situação catastrófica, em que “futuro” significará pouco mais que obscuro.

Caixa Alta, Rádio Castrense
Cristina Ferreira / Rafael Costa, 13/03/2020


sexta-feira, 6 de março de 2020

Cristina Ferreira - Crónicas III (06MAR2020)




Assembleia Municipal Descentralizada



Recentemente realizou-se a Assembleia Municipal de Almodôvar, desta vez descentralizada, na Aldeia-dos-Fernandes.

A ideia de Assembleias Municipais descentralizadas é defendida pelo Bloco de Esquerda há vários anos.

A esse propósito, e motivado por tal acontecimento, dou-lhes a conhecer a opinião de António Guerreiro, candidato e deputado neste órgão em eleições anteriores, em relação a comentários e ações públicas de membros eleitos para a Assembleia Municipal.

No PS de Almodôvar vai despontando um rapaz que, fruto da sua ambição talvez venha a “chegar longe”, e este chegar longe vai entre aspas porque me parece que não é no bom caminho em termos de defesa da verdade e da transparência que se exige a um eleito na Assembleia Municipal e líder da Juventude Socialista do Baixo Alentejo.

Conheço-o há alguns anos já que foi meu colega de trabalho e durante esse período pude verificar a sua determinação, a sua vontade de aprender e até cheguei a pensar que dali se pudesse aproveitar alguma coisa e que fosse de um PS diferente, de um PS de esquerda mas infelizmente tenho verificado que afinal não passa de mais do mesmo, senão, e, até fruto dessa ambição, pior do que aquilo a que estávamos habituados. Nomeadamente no que concerne ao aproveitamento do trabalho dos outros, aquilo a que eu costumo chamar de parasitismo.

Passo a explicar:

Devo confessar que não sou adepto de redes sociais e muito menos do Facebook mas vai sempre aparecendo alguém que me vai chamando a atenção para algumas coisas que por lá circulam e vai daí, lá dou uma espreitadela e por vezes deparo-me com coisas que – como diria algum crente – não lembraria ao diabo.

Em 30 de Setembro de 2019 o nosso amigo colocou um vídeo nesta rede social em que reclama para o PS os louros da aprovação da lei que consagra o direito de antecipação da idade da reforma para os trabalhadores das lavarias, quando é por de mais sabido que pela vontade do antigo ministro do trabalho e da segurança social, Vieira da Silva, tal nunca teria acontecido, já que os mineiros nunca lhe mereceram qualquer consideração e que esta lei foi aprovada a partir de propostas do BE e da CDU na sequência das lutas desenvolvidas pelos trabalhadores e que não precisava para nada dos votos do PS na medida em que tanto PSD como CDS as votariam favoravelmente e, então o PS, que estava em minoria, para não ficar isolado, acabou também por votá-las.

Mais tarde no WhatsApp colocou, numa clara tentativa de aproveitamento, um outro com o deputado Pedro do Carmo em que este questiona a ministra do trabalho sobre a eliminação do factor de sustentabilidade para os trabalhadores das minas que beneficiam do estatuto de desgaste rápido onde se afirma que teve resposta favorável. O certo, é que até à presente data, ele continua em vigor. Já se passaram cinco anos de governo PS que se dizia contra, quando este foi implementado por Passos Coelho a propósito da crise e da Troika. Também neste caso o BE tem reivindicado a sua eliminação há quase dez anos e naturalmente não vai desistir.

Recentemente, a 28 de Fevereiro realizou-se e muito bem, na sua terra, a Aldeia dos Fernandes, uma sessão ordinária da Assembleia Municipal e ao que parece, pretende-se que seja a primeira descentralizada.

Na sua página no Facebook pode-se ler um texto, em que afirma que existe um aproveitamento político, por parte do PSD, numa clara tentativa de enganar os eleitores menos atentos, e que quando estiveram no poder não apresentaram propostas, que visassem implementar políticas de participação dos cidadãos nos órgãos autárquicos e que o fazem agora que estão na oposição. Isto, a propósito da aprovação da realização de Assembleias Municipais descentralizadas. Diz ainda o Sr. Deputado que a bola está, a partir de agora, do lado dos munícipes.

Não pretendo defender o PSD, era o que mais faltava, mas devo dizer ao Senhor Deputado Municipal Luís Martins que, se é verdade que o PSD quando estava no poder nada fez pela descentralização das Assembleias, o seu partido, nem no poder nem na oposição.  

O BE foi fundado em 1999 e nas eleições autárquicas de 2001, já tinha no seu programa para a Assembleia Municipal de Almodôvar a proposta de descentralização da mesma e nunca deixou de o fazer até ao presente. No mandato de 2009-2013 o Bloco de Esquerda apresentou na Assembleia esse ponto à discussão; talvez o Sr Deputado Luís Martins desconheça qual foi o sentido de voto do seu partido. Informe-se!

Aproveito ainda para recordar dois episódios:

UM, que aconteceu no final da Assembleia Municipal em que esse ponto não foi aprovado devido às votações, quer do PS quer do PSD. A determinada altura um deputado do Partido Socialista chamou-me e disse-me: “Oh Bia, tu não tás bom, então já viste o que era irmos fazer uma Assembleia para S. Barnabé? Chegávamos a casa já de madrugada.”.
Mais palavras para quê?
Era um democrata do PS.

O OUTRO, ainda que muita gente pense que é a primeira vez que se faz uma Assembleia Municipal descentralizada no concelho de Almodôvar o que é facto é que não é.

Há muitos anos, talvez mais de trinta, julgo que em Santa Clara, realizou-se a primeira e única sessão da Assembleia Municipal ordinária descentralizada.

E única e porquê?

Porque as pessoas da povoação aderiram de tal forma à sessão, colocaram tantas dúvidas e apresentaram tantas propostas que aquilo acabou por deixar os eleitos incomodados, de tal forma que nunca mais repetiram. Portanto se é verdade, Sr. Deputado Luís Martins que a bola está do lado dos munícipes ela está, principalmente, do lado dos seus representantes, que foi para isso que foram eleitos. E não se devem acomodar à sala quente e confortável de sessões nos Paços do Concelho. Devem ir não só para São Barnabé como, se necessário, ir para a Várzea de Ourique ou para a Caiada e se tiver que ser na rua, pois que o seja.

Senhor Deputado Luís Martins, uma boa ideia não deixa de ser boa só porque não fomos nós a apresentá-la.

É verdade que esta já vem um pouco atrasada, desde que o BE de Almodôvar a propôs pela primeira vez já se passaram 19 anos, apesar disso, mais vale tarde que nunca.

Peço-lhe que, da sua parte, tudo faça para que não acabe como na primeira vez.

Ah, e já agora, um pouco de humildade democrática também não lhe ficava nada mal.


Caixa Alta, Rádio Castrense
Cristina Ferreira/António Guerreiro, 06-03-2020