CHEIRA BEM, CHEIRA A AUTÁRQUICAS
Assumindo que tudo correrá
pelo melhor, e para isso os portugueses têm feito um enorme esforço, dentro de
aproximadamente oito meses decorrerão as eleições autárquicas.
Completar-se-á assim mais um
ciclo de governação autárquica que em todo o país foi atormentado, na sua
segunda metade de mandato, por uma crise sanitária e social como há muito não
existia.
De um momento para o outro,
por força das restrições sanitárias entretanto impostas, muita da planificação
dos executivos camarários teve de ser alterada, para priorizar e reforçar
outras áreas de atuação autárquica, como o apoio social e económico de
munícipes e empresas locais, redirecionando por exemplo os fundos para a
promoção de eventos culturais previstos no orçamento camarário que foram,
entretanto, cancelados, redistribuindo-os por essas áreas de maior prioridade.
De forma generalizada no país
e na região, assistimos à adaptação dos municípios ao novo contexto de crises
provocadas pela pandemia. Uns têm melhores resultados, outros nem tanto assim,
porém a direção dos esforços, condicionados pelas restrições sanitárias,
confluem num só sentido: amortecer o impacto da pandemia nas famílias e na
economia local.
Há males que vêm por bem,
dizem, mas este não é o caso, porém fica demonstrado qual a importância que o
poder autárquico tem na vida dos cidadãos, mesmo que fragilizado por reformas
feitas a régua e esquadro, como é o caso da agregação de freguesias promovida pelo
social e democrata Miguel Relvas e imposta em 2012 e que só por “sorte” não
degenerou em agregação de municípios, ou como a municipalização da educação e
ainda outras que normalmente vêm acompanhadas de cortes orçamentais cegos às
realidades locais de cada município.
A emergência social e económica
despoletada pela presente crise pandémica, pôs à vista os pontos fortes de um
aparelho de estado próximo das comunidades que servem, mas também evidenciou
muitas das suas fraquezas. Se por um lado é de louvar a capacidade reativa e de
adaptação dos executivos municipais às novas realidades, essa mesma capacidade
reativa mostra que a persistência de determinados problemas nos municípios
depende tão somente do interesse e da vontade política desse mesmo executivo.
Gere-se o mandato por forma a
cativar os eleitores nas eleições seguintes. É preciso obra? Pois, claro,
empurra-se para próximo das eleições, especialmente aquela que é particularmente
mais vistosa e que enche o olho e o coração dos munícipes. E se não houver
obra, como é que se faz? Então lança-se um projeto, uma coisa bem bonita e que se
guarda na memória para o futuro.
Faltam cerca de oito meses
para as eleições, mas já cheira a autárquicas e tal como na primavera despontam
as flores no campo, nas localidades despontam abundantemente as obras e os
projetos guardados como trunfos na manga dos políticos que gerem os municípios.
Filipe M Santos/Cristina
Ferreira, 25/02/2021