sexta-feira, 24 de abril de 2020

Cristina Ferreira - Crónicas III (24ABR2020)



Vivemos tempos especiais. Todos somos reféns de um vírus Corona conhecido por Covid-19. Por causa dele perigam as nossas vidas. Este é um vírus que nos corrói a saúde, corrói as nossas vidas, os nossos empregos, a economia, a confiança no estado, e mina os ainda frágeis alicerces da democracia. Vivemos tempos em que a liberdade foi posta em suspenso, de estado de emergência em estado de emergência.

Hoje é véspera do Dia da Liberdade, e discute-se a liberdade, ou não, de se assinalar este dia em sessão solene na Assembleia da República. Dá que pensar: há precisamente 46 anos atrás tampouco havia liberdade para se pôr esta questão.

Uma longa caminhada de 46 anos, pejada de obstáculos e ziguezagues que não têm sido fáceis percorrer, na reflexão do nosso camarada António Gonçalves e vos quero partilhar:


25 de Abril… e vão 46

Para mim, parece que foi ontem e, no entanto, continuo à espera de que se cumpram os desígnios da Revolução do Cravos.

No princípio era um golpe militar, com o objetivo de devolver ao povo, a dignidade e a liberdade que eram do povo, por direito.

Mas, ali na zona nobre da capital, Terreiro do Paço, Largo do Carmo, o golpe militar virou revolução, e os cravos vermelhos conquistaram os canos das espingardas.

A liberdade, a dignidade, o orgulho de ser português, foram devolvidos ao povo, àqueles que tiveram de partir em busca dessa liberdade perdida e da sua dignidade.

Àqueles que tiveram de partir para uma guerra que não era sua.

Àqueles que não puderam cantar os hinos e as cantigas e que optaram por partir para outras paragens, porque o rolo compressor da censura lhes transformava as palavras cantadas em atos de repressão e tortura.

Àqueles que sofreram na pele e na mente os horrores da tortura, porque a palavra e a opinião eram cerceadas por um regime corrupto e totalitarista.

Traidores à pátria, diziam eles, os corruptos, os fascistas, em suma, os servos do capitalismo instalado.

E agora, olhando para o presente, a verdade nua e crua é esta: FALTA CUMPRIR ABRIL!

A corrupção não abrandou, pelo contrário, os impostos levam-nos grande parte dos nossos ordenados, não há equilíbrio no uso da palavra quer escrita, quer falada.

E, depois, em alturas de grandes crises financeiras, somos nós, o povo, que somos obrigados a chegarmo-nos à frente para tapar os buracos abertos pelos desvarios e desmandos dos apoiantes do grande capital.

Agora mesmo, o Novo Banco pediu ao Fundo de Resolução mais uma injeção de mil milhões de euros.

Lá vai o nosso dinheiro, o dinheiro dos contribuintes, a voar de mão em mão.

Não meus amigos!

Não estão cumpridos os objetivos de 25 de Abril de 1974.



António Gonçalves, 27/02/2020




Cristina Ferreira/Filipe M Santos, 24/04/2020



sexta-feira, 17 de abril de 2020

Cristina Ferreira - Crónicas III (17ABR2020)





LUIS SEPÚLVEDA MORREU



O escritor chileno Luis Sepúlveda morreu ontem, aos 70 anos, em Espanha, em consequência da doença covid-19.



Luís Sepúlveda nasceu no Chile a 04 de outubro de 1949, foi romancista, jornalista e ativista político.

"Lucho" (como carinhosamente era tratado) deixa nos seus leitores e no panorama literário uma grande perda.

A sua primeira obra foram as Crónicas de Pedro Ninguém, publicada em 1969. Publicou mais de vinte títulos, entre os quais O Velho que Lia Romances de Amor e História de Uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar.





O escritor tem toda a obra publicada em Portugal e algumas estão incluídas no Plano Nacional de Leitura. Participava regularmente em eventos literários no país.


Voz comprometida com a justiça social, também as suas crónicas eram lidas em Portugal. O Esquerda.net foi publicando algumas delas ao longo dos anos, entre as quais Salvador Allende, um líder do presente e do futuro e Astúrias: Vivam os Mineiros!.

Residia atualmente no Estado Espanhol. Estava internado desde finais de fevereiro num hospital de Oviedo, onde foi diagnosticado com a covid-19. Dias antes do diagnóstico, o escritor tinha estado no festival literário Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, o que levou a organização do festival a recomendar aos participantes que entrassem em quarentena.

Várias personalidades e instituições têm reagido com pesar à notícia do seu falecimento. A Fundação José Saramago recorda a relação de "amizade, solidariedade, camaradagem" de José Saramago com Luís Sepulveda. O escritor José Luís Peixoto recebeu com choque a notícia do falecimento do seu amigo, cujas incríveis histórias recorda e sublinha que Sepúlveda era um homem " generoso na escrita e na vida, combativo, sonhador, resistente". A Bienal de Veneza lembra a adaptação da sua obra a cinema. E leitores de diferentes países têm também prestado a sua homenagem nas redes sociais, com referências frequentes a obras que marcaram gerações, como a História de Uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar.



Cristina Ferreira, 17/04/2020


sexta-feira, 10 de abril de 2020

Cristina Ferreira - Crónicas III (10ABR2020)





UM TERCEIRO PERÍODO ATÍPICO





O primeiro-ministro anunciou ontem que o 3.º período irá recomeçar, mas ainda sem aulas presenciais. Esta medida será para todos os anos de ensino, à exceção do 11.º e 12.º anos em que se procurará, quando possível, retomar as aulas presenciais das disciplinas sujeitas a exame nacional de acordo com a notícia publicada em sapo.pt.

As Provas de aferição e exames do 9.º ano foram cancelados. Os Exames Nacionais do ensino secundário foram adiados para julho e setembro.

António Costa afirmou que, "tendo em conta a informação mais atual sobre a atual situação da pandemia que foi disponibilizada a todos pela equipa científica que apoia a Direção-Geral da Saúde", a que se somam as opiniões ouvidas pelos restantes partidos políticos e de uma avaliação com o Presidente da República, "ainda não chegámos ao dia em que podemos começar a levantar as medidas de restrição de circulação e de distanciamento social".

Assim, 3.º período do ano letivo terá início, como previsto, no dia 14 de abril, ainda sem atividades letivas presenciais, "no ensino básico, do 1.º ao 9.º ano, todo o terceiro período prosseguirá com o ensino à distância, que será reforçado com o apoio de emissão televisiva de conteúdos pedagógicos que complementarão, sem substituir, o trabalho que os professores vêm mantendo com os seus alunos".

António Costa adiantou que, "de modo a ter o alcance mais universal possível, estas emissões diárias serão transmitidas, a partir do dia 20, no canal RTP Memória, que é acessível não só por cabo ou satélite, mas também, através da TDT".

Tal é válido para todos os anos, sendo que para os 11.º e 12.º ano irá procurar-se, quando for possível fazê-lo em segurança, retomar as aulas presenciais das disciplinas sujeitas a exame para não colocar em causa o processo de acesso ao ensino superior.

Salientando o trabalho da comunidade educativa que conseguiu, "com sucesso, concluir o 2.º período", Costa anunciou que a "avaliação do ensino básico será feita em cada escola pelos professores que conhecem melhor cada aluno, sem provas de aferição e sem exames do 9º ano".

Em relação ao ensino secundário, "havendo menos oportunidade de recuperação futura e sendo anos decisivos para acesso ao ensino superior e regresso à vida ativa, é particularmente importante que ainda possamos retomar as atividades letivas presenciais pois a diversidade de disciplinas não permite recorrer à transmissão televisiva. Afirmou que "não há uma data limite", vincando que "mesmo que só haja um período de uma ou duas semanas para dúvidas para os exames, já seria um ganho".

Desta forma, o calendário dos exames nacionais é também alterado. A primeira fase passa a acontecer em julho, entre os dias seis e 23, e a segunda fase em setembro, entre os dias um e sete. Desta forma, a "atividade letiva deve estender-se até ao dia 26 de junho".

António Costa sublinhou que as medidas se aplicam ao ensino público e privado, vincando que os apoios às famílias com menores de 12 anos mantêm-se.

O Ministério da Educação fez, entretanto, uma parceria com a RTP para começar a transmitir no 3.º período conteúdos programáticos dirigidos aos alunos do 1.º ao 9.º ano de escolaridade, sendo ainda desconhecidos os contornos da iniciativa.






Cristina Ferreira, 10/04/2020