25 DE ABRIL – CAMINHO
ÁRDUO DE LIBERDADE
Após pouco mais de um ano de restrições
sociais por conta de uma situação sanitária pandémica, por todos nós conhecida,
eis-nos às portas de mais uma comemoração que relembra a cada homem, a cada
mulher, o dia em que alcançámos o inalcançável: LIBERDADE!
E há 47 anos estamos
construindo essa realidade, outrora uma utopia.
Em muitas áreas da nossa
sociedade houve significativos avanços, noutras parecemos estar a recuar e
outras ainda, por medo ou falta de imaginação, nem sequer as iniciámos. Há que
refinar, impulsionar, atrever-nos a alcançar mais longe, derrubar estigmas, abandonar
preconceitos e a cada dia concretizar o sonho de alcançar o inalcançável. Façamo-lo
em LIBERDADE!
Os estados de emergência
decretados, uns a seguir aos outros, no último ano, suspenderam e continuam a
suspender liberdades, e por mais leve que essa suspensão fosse, o resultado é
que liberdades que dávamos como garantidas, foram suspensas, por decreto. É
preciso estar em alerta e não deixar transformar em ordinário o que é
extraordinário.
Mas o que é mesmo
extraordinário, neste tempo de necessidade, de restrição e de incerteza, é que
o que era ordinário há quase meio século atrás, esteja a renascer.
Assistimos à reafirmação e
massificação ideológica e política do extremismo de direita, atualmente
personificados na figura de atores políticos chegados recentemente à casa da
democracia e congéneres tanto nacionais como locais, ou em aspirantes a órgãos,
sujeitos a escrutínio universal e democrático, onde exercem ou exercerão junto
do povo os seus valores de liberdade, os seus valores de democracia, os seus
valores de igualdade de oportunidades.
Assistimos ao ressurgimento de
coisas que julgávamos fechadas à chave, no lado de lá da porta que fechámos há
47 anos atrás. Mas, afinal, a porta estava fechada no trinco, e de frouxo que
era, abriu-se deixando assim escapar pela fresta, coisas que parecem novas,
pelo menos para aqueles que não as conheceram noutra altura, e úteis para
aqueles que são saudosistas das coisas do outro tempo.
E no outro tempo o que havia
era um país decrépito, analfabeto, doente, ignorante, faminto, em luto pelos
seus filhos que foram morrer numa guerra lá fora, mas apesar de tudo até era um
país sereno, respeitador e feliz na sua ignorância e à mercê de uma casta política
de elite respaldada numa polícia secreta que atuava com toda a força do estado
sobre quem ousasse questionar a sua miséria.
A Revolução dos Cravos rompeu
com tudo isto, e acima de tudo, trouxe-nos a possibilidade de escolher a
sociedade que queremos, atuando individual e coletivamente nos caminhos da
democracia.
Este é um caminho que não é
fácil, e muitas vezes há armadilhas no percurso que fazem perigar todo o
esforço feito até aí e muitas mais vezes deparamo-nos com obstáculos que pela
sua grandiosidade, são difíceis de superar. A corrupção, a xenofobia, o
racismo, o sexismo, a homofobia, a escravidão e a precariedade laboral, a
injustiça social, económica e judicial, são alguns deles. É desmotivante, mas
não é impossível superar e combatê-las.
O combate faz-se com
coerência, pessoal e coletiva, e ser coerente é agir em concordância com o que se
diz e pensa.
Combater a corrupção é agir em
coerência pessoal e coletiva contra esse cancro na sociedade. Não é dizer-se a
favor do reforço de leis anticorrupção, e depois chumbá-las na Assembleia da
República, e pior, prestar serviço de defesa e de consultoria aos alegados
corruptores.
Combater a injustiça social é
agir coerentemente a nível pessoal e coletivo, criando condições sociais justas
para todos os homens e mulheres deste país. Não é jogar ao faz de conta que dá,
mas na verdade cria obstáculos, condições de acesso, trâmites, pontos e virgulas
tais que somente uns poucos podem beneficiar. E o mesmo na justiça económica, e
o mesmo na justiça judicial.
Combater a corrupção com
corrupção não faz sentido. Combater a xenofobia com xenofobia é uma estupidez,
igualmente com o racismo e o sexismo e por aí em diante. Em outras palavras, o
combate aos podres da nossa sociedade, não se faz com mais podres. Este combate
não é feito de simpatias nem de palmadinhas nas costas, de coisas que soam bem
aos ouvidos, nem de populismos, nem de oratória exuberante de dedo em riste.
Faz-se com seriedade ideológica e ações coerentes pessoal e coletivamente.
O 25 de abril de 1974 foi o 1º
dia de liberdade, mas também o primeiro de muitos mais de árdua construção.
25 de Abril, Sempre! Fascismo,
nunca mais!
Cristina Ferreira, Filipe M
Santos, 23/04/2021