BLOCO QUER REFORÇAR
REGIME DE EXCLUSIVIDADE DOS DEPUTADOS
O Bloco de Esquerda não aceita
que deputados passem a poder acumular subsídio de exclusividade com funções não
remuneradas na gerência de empresas ou outras entidades.
O líder parlamentar bloquista
anunciou na quarta-feira que o partido vai propor uma clarificação à lei no
Estatuto Remuneratório dos Titulares de Cargos Políticos. Citado pelo jornal
Público, Pedro Filipe Soares diz-se “estupefacto” com a possibilidade aberta
por um parecer aprovado na Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados
que passa a permitir a acumulação do subsídio de exclusividade - que
corresponde a um aumento de 10% do salário dos parlamentares - com o exercício
de cargos em órgãos de gestão de empresas, caso estes não sejam remunerados.
Segundo o Público, essa situação abrange atualmente quase uma dezena de
deputados.
O parecer redigido pelo
ex-deputado do PAN, André Silva, contou com os votos favoráveis do PS e do PSD,
a abstenção do CDS e a oposição do PCP e de Jorge Lacão, o deputado socialista
que preside à comissão. O Bloco vai apresentar uma alteração ao texto da lei
para que se deixe de “destruir aos poucos o preceito de exclusividade do
mandado dos deputados”. Para Pedro Filipe Soares, “em vez de ser afrouxado, o
regime devia ser reforçado”.
O centro da discórdia está na
interpretação de um artigo da lei do Estatuto Remuneratório dos Titulares de
Cargos Políticos, que garante aquele suplemento salarial aos deputados, “desde
que declarem no registo de interesses que não exercem regularmente qualquer
atividade económica, remunerada ou de natureza liberal”. Os defensores do
parecer agora aprovado leem neste trecho da lei que os deputados abrangidos são
os que não têm outra atividade económica, se esta for remunerada ou liberal. Os
restantes entendem que a lei pretende abranger os deputados que não tenham
outra atividade económica, não tenham atividade remunerada ou não tenham
atividade liberal.
Pedro Filipe Soares diz que a
interpretação da maioria de direita e PS “é contrária ao espírito do
legislador”, ao permitir a acumulação de funções de gestão em empresas
privadas. “O regime de exclusividade tem uma marca económica de valorizar o
mandato do deputado com um aumento da remuneração. Dizer que pode acumular a
exclusividade com a atividade económica de ser sócio-gerente no privado só
porque não recebe é retirar a força das funções parlamentares”, disse ao
Público o deputado bloquista, lembrando que “a única atividade paralela
admitida é no ensino e é gratuita”.
Fonte: https://www.esquerda.net/artigo/bloco-quer-reforcar-regime-de-exclusividade-dos-deputados/75078
Cristina Ferreira, 18/06/2021