sábado, 26 de setembro de 2020

VOTO DE CONDOLÊNCIAS - Sérgio Delfino, Mineiro

 



Morreu um mineiro.

Não daqui de Almodôvar, era de uma terra vizinha, mas é igual, morreu!

Numa terra de mineiros onde temos família ou amigos e até conhecidos que trabalhe numa mina, não há quem não sinta.

Sente-se, sente-se e muito!

Nestas terras, onde a maior parte das famílias vivem daqueles “buracos”, tudo nos faz tremer!

Mas uma terra de mineiros não estremece só com as detonações...

Estremece com tudo e principalmente com isto, pelos piores motivos.

Uma terra de mineiros estremece porque um mineiro é como um familiar que voltará à mina com o coração nas mãos e o pensamento que poderia ter sido com ele.

Numa terra de mineiros, todos sentimos a mina...

Com grave pesar, o Bloco de Esquerda de Almodôvar, endossa aos familiares do falecido Sérgio Delfino, os mais sinceros votos de condolência, pela trágica perda do seu ente querido.

Que descanse em paz.

 

 

O Núcleo Concelhio do BE de Almodôvar,

Almodôvar, 26 de setembro de 2020


sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Cristina Ferreira - Crónicas IV (25SET2020)

 



O MEIO-FIM DO FATOR DE SUSTENTABILIDADE


Voltamos ao Caixa Alta e aos temas da atualidade, sempre na senda de informar e esclarecer os e as ouvintes da Rádio Castrense.

Este é um espaço de opinião, feito na primeira pessoa, sobre os acontecimentos que afetam o nosso dia-a-dia, mas claro, não esquece as lutas que travámos nem das que se avizinham.

Por isso voltamos à questão do fator de sustentabilidade aplicado nas reformas antecipadas por desgaste rápido que, na opinião de António Guerreiro, trabalhador reformado das Lavarias,  continua a ser um fator de sonegação e principalmente de injustiça, mantido pelo governo que continua a aplicar esta medida apesar de ser contrária ao que foi estipulado no Decreto-Lei nº 70/2020 publicado no Diário da República,  nº 181/2020, Serie I de 16/09/2020.

O sumário é claro e diz exatamente o seguinte: “Atualiza a idade de acesso às pensões e elimina o fator de sustentabilidade nos regimes de antecipação da idade de pensão de velhice do regime geral da segurança social.”

Mais à frente diz: “Deste modo, através do presente decreto-lei, passa a beneficiar do fim da utilização do fator de sustentabilidade no cálculo das suas pensões os trabalhadores que exercem profissões de desgaste rápido.”

Apresenta depois o rol das profissões incluídas neste estatuto e, de entre outras, sobressaem algumas que são particularmente importantes para a nossa região como sejam: trabalhadores do interior das minas e das lavarias de minério, como previsto no Decreto-Lei nº 195/95, de 28 de julho, na sua redação atual.

Até aqui, nada a apontar. Só que, de seguida, na Produção de Efeitos, surge então o seguinte: “O disposto no presente decreto-lei aplica-se aos requerimentos de pensão ao abrigo dos regimes de antecipação da idade de acesso à pensão de velhice previstos no artigo 2º aposentados desde 1 de janeiro de 2020.”

Esta alteração à lei tinha sido negociada entre o governo e os partidos da chamada geringonça e deveria ter efeitos a 1 de janeiro de 2019, apesar de só constar do orçamento de 2020.

Agora o governo vem escudar-se com a pandemia da Covid19 para justificar a não aplicação do negociado.

Sejamos sérios. O acordado já deveria estar a ser aplicado desde o início do ano.  O primeiro caso de Covid19 registado em Portugal data de 2 de março de 2020, e a pandemia só é decretada pela Organização Mundial de Saúde no dia 9 do mesmo mês.

E para além disso a pandemia só serve de desculpa para penalizar os mesmos de sempre. Não consta que crie dificuldade para financiar bancos ou a TAP, entre outros, bem pelo contrário.

O fator de sustentabilidade remonta ao tempo de Passos Coelho e da Troika, portanto, desde essa altura, os pensionistas das profissões de desgaste rápido são penalizados por este injusto imposto.

Foi agora e, sem favor nenhum, retirado. O que é da mais elementar justiça. Fica, no entanto, o sabor amargo da discriminação na medida em que, quem o pagava antes de 1 de janeiro de 2020, o vai continuar a pagar. Se o governo, ao eliminar o fator de sustentabilidade, reconhece o quanto era injusto, como é que permite que alguns o continuem a pagar?

Chama-se a isto pagar um imposto que já não existe.

Recentemente um amigo desabafava: “Será que quem pagava, em meados do século passado, o imposto sobre a utilização do isqueiro na via pública, o continua a pagar sob pretexto de que quem já pagava quando esse mesmo imposto foi abolido?”

Os trabalhadores das minas, habituados desde sempre a não ter nada de mão beijada, a nada possuir sem ser à base da luta, mantêm a disponibilidade de sempre para a continuar.

Ainda não será desta que, mesmo reformados, nos calarão.

 

Caixa Alta, Rádio Castrense

Cristina Ferreira/António Guerreiro, 25-09-2020