ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS E ALENTEJO
Não
se esperava que os resultados das Eleições Presidenciais se focassem no
Alentejo, mas estes provocaram uma onda de análises, discussões, nas redes
sociais surgem reações negativas e um sem número de acusações de que os
alentejanos desonraram as lutas do passado, de que não há respeito pelos
valores de Abril.
O
que levou 28.404 eleitores a viver no Alentejo a votar em Ventura?
Talvez
a resposta seja muito simples e, ao mesmo tempo, complexa.
O
esquecimento a que os diversos governos têm deixado o Alentejo deixou um rasto
de revolta, desalento e insatisfação. Os poucos investimentos são conseguidos a
ferro e fogo e após anos de lutas, como é o caso da abertura do troço da
autoestrada.
Há
uma lista enorme do que é preciso fazer, seja ela apresentada por grupos
organizados, populares ou outros. E enquanto se aguarda que algum investimento
seja projetado, saia do papel e depois executado passam-se anos e anos. As
desculpas são muitas, desde a económica à social, mas todas visam adiar a
solução do problema.
O
sentimento de que o país está a desistir do Alentejo facilmente é canalizado
para o populismo: se fecham escolas, postos da GNR e PSP, postos de CTT, não
rentabilizam o aeroporto, não equipam o hospital e centros de saúde com os
meios humanos e materiais necessários, a ferrovia e redes de estradas estão num
estado deplorável, são razões mais que suficientes para o desalento, para acreditar
de que foram abandonados e, assim, facilmente seguir os populismos de certos
candidatos.
Talvez
esse descontentamento se tenha traduzido em voto num candidato que tem tanto de
expressivo como de excessivo: tal como na feira quem faz mais barulho é quem
chama mais clientela, independentemente da qualidade do produto.
Ventura
fez barulho, apresentou um conjunto de propostas que, apesar de serem da
extrema direita, parecem ir de encontro a muitas insatisfações e desejos de
mudança.
Mas
de onde vieram esses votos?
Se
a ideia de que vieram do PCP pode ser plausível, os resultados, ao longo da
última década, nos concelhos onde Ventura teve mais votos, são aqueles onde
houve um decréscimo de votos no PCP; paralelamente, aconteceu o mesmo nas
freguesias com maior incidência de comunidades ciganas, o que revela a
preocupação das pessoas quanto à segurança e distribuição de rendimentos. Não esquecer que a pandemia, o medo e o
isolamento deram uma ajuda nesta votação.
Não
deixa de ser surpreendente, e muito, muito preocupante, que um
partido bastante recente, fundado em 2019, e de extrema direita tenha um número
de votos tão expressivo em diferentes pontos do território e com uma rápida
infiltração em todo o país.
Esta
disseminação marcada pelo discurso do ódio, xenofobia, racismo que é repetido
até à exaustão, de que há metade a trabalhar para a outra metade que não
trabalha, é o rastilho que só precisa de um fósforo. O imaginário nacionalista do Estado Novo e a imitação
da postura ideológica de Donald Trump completam o cenário da extrema direita.
Ventura
não está a criar caminhos, pelo contrário cria becos, caminhos sem saída para
fuzilar a DEMOCRACIA.
Cristina
Ferreira, 29/01/2021