JOSÉ MÁRIO BRANCO
Morreu José Mário Branco, a 19 de
novembro de 2019, o músico, cantor e compositor que marcou a música portuguesa
das canções de resistência ao fascismo até à nova geração do fado, músico que
ao longo de meio século de carreira deixou a sua marca na cultura portuguesa e
em várias gerações de artistas. A sua vida foi marcada igualmente pela
intervenção política, pelo combate às opressões e à desigualdade social, como
refere o artigo publicado em Esquerda.net.
Grava “Cantigas de Amigo” em
1967 mas é no exílio em França que compõe as músicas para textos de Natália
Correia, Alexandre O’Neill, Luís de Camões e Sérgio Godinho que dão forma ao
álbum “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades” em 1971. Este álbum levou-o a
percorrer vários países europeus em concertos para as comunidades portuguesas e
em atos de solidariedade contra o fascismo português em França, Suíça,
Alemanha, Holanda e Itália. Esta ação foi sempre marcada pela sua participação
política na luta contra o fascismo e nos combates pela liberdade. Destaca-se a
sua ativa militância no Maio de 68 em França.
Regressa a Portugal após a
revolução do 25 de Abril e torna-se uma das figuras da cultura portuguesa nos
primeiros tempos de liberdade. Para além das inúmeras intervenções musicais,
estende a sua atividade ao teatro, integrando o grupo A Comuna, onde veio a
conhecer a sua companheira Manuela de Freitas, mas também ao cinema e à ação
cultural, fundando com Fausto, Tino Flores e Afonso Dias o - Grupo de Ação
Cultural - Vozes na Luta logo após chegar a Portugal. Este grupo dinamizou
centenas de sessões de canto em aldeias, fábricas e quartéis por todo o país,
participando inclusivamente no Festival da Canção de 1975 com o tema “Alerta”.
Num contexto cultural marcado
também pela luta entre as diferentes orientações políticas da esquerda
revolucionária, a intervenção política de José Mário Branco nesse tempo foi
orientada para o agrupamento das correntes maoístas que viriam a dar origem à
UDP, da qual foi fundador e dirigente, tendo sido eleito para a direção da UDP
em 1980.
O período pós-revolucionário
foi marcado por cisões tanto ao nível partidário como cultural, com as
divergências a determinarem igualmente a sua saída do Grupo de Ação Cultural e
também da Comuna. É neste período que compõe e edita duas das suas maiores
obras musicais, “FMI” e “Ser Solidário”, que ficariam para sempre como a marca
da desilusão por parte de uma geração que entregou a sua juventude ao processo
revolucionário e assistia então ao desfazer das esperanças de construir uma sociedade
socialista em Portugal. O cantor conclui o período com a canção e autêntico
manifesto: "Eu vim de longe, eu vou para longe" do disco "Ser
Solidário".
Os anos seguintes seriam férteis
em colaborações com outros artistas, assumindo a orquestração, composição e
arranjos musicais em trabalhos de velhos parceiros, como José Afonso, Fausto,
Sérgio Godinho ou Janita Salomé, mas também de novos companheiros como os
Gaiteiros de Lisboa e Amélia Muge e um novo interesse pelo fado, onde colabora
com Carlos do Carmo ou Camané. Edita um álbum de canções ao vivo em 1997.
Em 1999 participa na fundação do Bloco de
Esquerda, de que foi membro da Mesa Nacional.
Num tempo marcado pela
mobilização pela independência de Timor, servirá como base para o título do
álbum seguinte, já em 2004, “Resistir é Vencer”.
Cinco anos depois, regressa
aos palcos ao lado de Fausto e Sérgio Godinho no projeto “Três Cantos”, com
vários dias de concertos no Campo Pequeno.
Em 2018 deu a conhecer um
conjunto de canções e composições gravadas com o álbum “Inéditos
1967-1999”.
Caixa Alta, Rádio Castrense
Cristina Ferreira, 6/12/2019
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