sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Cristina Ferreira - Crónicas III (06DEZ2019)



JOSÉ MÁRIO BRANCO

Morreu José Mário Branco, a 19 de novembro de 2019, o músico, cantor e compositor que marcou a música portuguesa das canções de resistência ao fascismo até à nova geração do fado, músico que ao longo de meio século de carreira deixou a sua marca na cultura portuguesa e em várias gerações de artistas. A sua vida foi marcada igualmente pela intervenção política, pelo combate às opressões e à desigualdade social, como refere o artigo publicado em Esquerda.net.

Grava “Cantigas de Amigo” em 1967 mas é no exílio em França que compõe as músicas para textos de Natália Correia, Alexandre O’Neill, Luís de Camões e Sérgio Godinho que dão forma ao álbum “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades” em 1971. Este álbum levou-o a percorrer vários países europeus em concertos para as comunidades portuguesas e em atos de solidariedade contra o fascismo português em França, Suíça, Alemanha, Holanda e Itália. Esta ação foi sempre marcada pela sua participação política na luta contra o fascismo e nos combates pela liberdade. Destaca-se a sua ativa militância no Maio de 68 em França.

Regressa a Portugal após a revolução do 25 de Abril e torna-se uma das figuras da cultura portuguesa nos primeiros tempos de liberdade. Para além das inúmeras intervenções musicais, estende a sua atividade ao teatro, integrando o grupo A Comuna, onde veio a conhecer a sua companheira Manuela de Freitas, mas também ao cinema e à ação cultural, fundando com Fausto, Tino Flores e Afonso Dias o - Grupo de Ação Cultural - Vozes na Luta logo após chegar a Portugal. Este grupo dinamizou centenas de sessões de canto em aldeias, fábricas e quartéis por todo o país, participando inclusivamente no Festival da Canção de 1975 com o tema “Alerta”.

Num contexto cultural marcado também pela luta entre as diferentes orientações políticas da esquerda revolucionária, a intervenção política de José Mário Branco nesse tempo foi orientada para o agrupamento das correntes maoístas que viriam a dar origem à UDP, da qual foi fundador e dirigente, tendo sido eleito para a direção da UDP em 1980.

O período pós-revolucionário foi marcado por cisões tanto ao nível partidário como cultural, com as divergências a determinarem igualmente a sua saída do Grupo de Ação Cultural e também da Comuna. É neste período que compõe e edita duas das suas maiores obras musicais, “FMI” e “Ser Solidário”, que ficariam para sempre como a marca da desilusão por parte de uma geração que entregou a sua juventude ao processo revolucionário e assistia então ao desfazer das esperanças de construir uma sociedade socialista em Portugal. O cantor conclui o período com a canção e autêntico manifesto: "Eu vim de longe, eu vou para longe" do disco "Ser Solidário".

Os anos seguintes seriam férteis em colaborações com outros artistas, assumindo a orquestração, composição e arranjos musicais em trabalhos de velhos parceiros, como José Afonso, Fausto, Sérgio Godinho ou Janita Salomé, mas também de novos companheiros como os Gaiteiros de Lisboa e Amélia Muge e um novo interesse pelo fado, onde colabora com Carlos do Carmo ou Camané. Edita um álbum de canções ao vivo em 1997.

Em 1999 participa na fundação do Bloco de Esquerda, de que foi membro da Mesa Nacional.

Num tempo marcado pela mobilização pela independência de Timor, servirá como base para o título do álbum seguinte, já em 2004, “Resistir é Vencer”.

Cinco anos depois, regressa aos palcos ao lado de Fausto e Sérgio Godinho no projeto “Três Cantos”, com vários dias de concertos no Campo Pequeno.

Em 2018 deu a conhecer um conjunto de canções e composições gravadas com o álbum “Inéditos 1967-1999”.





Caixa Alta, Rádio Castrense
Cristina Ferreira, 6/12/2019

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