sábado, 16 de maio de 2020

Cristina Ferreira - Crónicas III (16MAI2020)







ESTRANHO MUNDO ESTE

Estranho mundo este: no turbilhão de voltas e reviravoltas que a pandemia do COVID19 provocou, tanto sociais como económicas, eis que surgem notícias que mostram as movimentações dos bastidores da sociedade portuguesa, bem como as movimentações dos meios de comunicação social para as explorar até ao limite da miséria e dor.

Vejamos o caso do assassinato de Valentina, explorado até ao limite, pela comunicação social quando já eram repetitivas as notícias sobre o desenvolvimento da pandemia no país, as diversas doações de máscaras e gel desinfetante, o agradecimento aos profissionais de saúde, o regresso às aulas, as entregas de computadores por parte das autarquias, e tantos outros que, de serem repetidos e dissecados, cansaram e, em alguns casos deram origem a algumas confusões como, por exemplo, a ideia de que que os idosos não podiam sair de casa. Muitas vezes a informação foi desinformação, muitas vezes foi o canal para dar cara a muitas fobias e inflamar opiniões e julgamentos. A crise sanitária deu lugar à crise social, mostrou as emergências de uma sociedade fragilizada tanto a nível social como económico.

O relatório apresentado pela Estrutura de Monitorização do Estado de Emergência (EMEE), coordenada pelo Ministro da Administração Interna, apresenta um conjunto de conclusões sobre os efeitos da pandemia realçando que, e passo a citar, “a crise social subsequente à crise sanitária” e apesar dos mecanismos implementados pelo governo terem “contribuído para minorar as consequências nocivas resultantes, o decréscimo do emprego e a retração da atividade económica foram inevitáveis”.

O documento analisa também a questão da população idosa, e realça o reforço da “capacidade de realização de testes em lares de idosos, abrangendo tanto utentes como os respetivos profissionais” bem como o “esforço de alargamento de testes ao pessoal do serviço de apoio domiciliário e aos utentes e funcionários de lares não licenciados”.

Por fim, reiterou a necessidade de reabertura de serviços públicos essenciais, como por exemplo os tribunais, e “do regresso à normalidade ao nível da prestação de cuidados de saúde não relacionados com a COVID-19”. Também “os serviços públicos deverão ser um exemplo quanto à adoção de medidas de proteção que permitam o atendimento ao público em condições de segurança, o qual poderá ser duplicado pelo setor privado aquando da retoma da atividade”.

Enquanto a pandemia era a desculpa para as empresas despedirem o Novo Banco aumentou salário de gestores em ano de prejuízos pagos pelos portugueses e recebeu do Estado mais 850 milhões de euros, ou seja, do erário público, e pode ainda vir a distribuir bónus de 2 milhões após 2021. Além disso, ofereceu 320 mil euros ao novo administrador financeiro só para o contratar. No global, a administração executiva do banco auferiu 2,3 milhões de euros no ano passado. Uma realidade chocante mesmo para o universo privilegiado e protegido como é o da banca.

Se o presente é um problema para António Costa parece que o futuro não o vai ser.

Se António Costa dá Marcelo Rebelo de Sousa como sendo reeleito nas próximas eleições presidenciais, se Marcelo retribui o apoio e afirma que têm um espírito de equipa que ninguém vai quebrar, temos o esquema montado e a paga dos favores desta legislatura e uma mão lava a outra.

Até agora, só André Ventura, deputado do Chega, anunciou oficialmente a sua candidatura à Presidência da República.

E termino com estes dois estados de emergência política, bastante preocupantes por sinal, pois ainda não há vacina, ou qualquer medicamento, para situações desta natureza.



Caixa Alta, Rádio Castrense

Cristina Ferreira, 16/05/2020



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