terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Cristina Ferreira - Crónicas III (01MAI2020)





Ler é sempre um prazer e António Guerreiro, amante da leitura, faz uma reflexão sobre as suas leituras de quarentena: 

Sempre que se fala de 11 de Setembro vem à memória da maioria das pessoas o ataque às Torres Gémeas do World Trade Center de Nova Iorque. É uma data incontornável da história recente e portanto nada de estranhar. A mim, no entanto, quando se fala de 11 de Setembro o que primeiro me ocorre não é o de 2001 mas o de 1973. 

No dia 11 de Setembro de 1973, em Santiago do Chile, Augusto Pinochet, apoiado pela CIA, lança um golpe de estado sobre um governo democraticamente eleito, do qual viria a resultar a morte do Presidente Salvador Allende e a implementação do regime ditatorial liderado pelo General até Março de 1990, durante o qual desapareceram e morreram muitos milhares de pessoas. 

Recentemente, a 16 do corrente faleceu em Oviedo, em Espanha, vítima da recente pandemia, um dos homens que a 11 de Setembro de 1973, fazia no Palácio de La Moneda em Santiago, guarda a Salvador Allende. Homem multifacetado, foi de tudo um pouco: realizador; jornalista; activista político chileno; membro das Brigadas Sandinistas na Nicarágua que derrubaram Anastácio Somoza foi, no entanto, como escritor que mais se notabilizou. Chamava-se Luís Sepúlveda. 

Um verdadeiro “trota mundos”. Depois do golpe militar de Pinochet teve de abandonar o Chile e andou, sempre na luta, pelo Brasil, Uruguai, Paraguai, Peru. Viveu na Alemanha e em Espanha. Viveu entre os índios no Equador e na Amazónia tornou-se amigo de Chico Mendes a quem dedicou uma das suas mais conhecidas obras: “O velho que lia romances de amor”. 

Sou desde há muito um grande admirador da sua obra e creio que posso dizer sem falsas modéstias que, não só li, como possuo praticante toda a sua obra literária. Já durante o recolhimento imposto pelo novo coronavírus li aquele que, julgo, terá sido o seu último livro “História de uma baleia branca”, publicado em Portugal em Maio de 2019. 

De entre a sua vasta obra destacaria, sem qualquer novidade, já que me parece ser consensual: “O velho que lia romances de amor”; “Patagónia Express”; “Mundo do fim do mundo”; “História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar” e o meu preferido “As rosas de Atacama”, livro de pequenos contos publicado em 2000 e que já li por várias vezes. 

Nestes tempos de reclusão mais ou menos obrigatória, mais ou menos voluntária, dou por mim a passar cerca de 23 horas por dia em casa e a minha actividade principal é, justamente, a leitura. 

Na primeira parte desta crónica lembrei Luís Sepúlveda e agora, sem pretensões de fazer concorrência ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa – ele lê 20 livros por semana que serão mais ou menos os mesmos que eu li até agora desde que começou o confinamento – gostaria de referir alguns dos que li, isto partindo do princípio que alguém se interessará por isso. 

- O oficial e o espião, de Robert Harris que relata o “Caso Dreyfus” passado no final do século XIX e princípios do seculo XX e que serviu de inspiração ao recente filme “J`acuse”, de Roman Polanski. Muito bom. 

- 2 livros de Ildefonso Falcones, escritor catalão de romances históricos: “A catedral do mar” e “O pintor de almas”. Muito bons. 

- Hippie, de Paulo Coelho. O homem farta-se de vender milhões de livros em todo o mundo e eu tento perceber porquê e então vou insistindo. Mais uma decepção, mais uma porcaria. 

- Pensava eu que já tinha lido tudo de Steinbeck, mas esta coisa da internet é realmente maravilhosa. Então não é que fui descobrir 4 que não tinha? Já li 3 “Chama devoradora”; “Bairro de lata” e “Um dia diferente”. Todos belíssimos. 

- Fui descobrir na biblioteca do meu camarada e amigo Toy Gonçalves numa edição de 1972, “Vietnam – A chacina de My Lay”, relatado na primeira pessoa pelo Tenente William Calley um dos mandantes e executantes da referida chacina, em que foram assassinados a sangue frio mais de 500 mulheres, crianças e velhos. Vale o que vale, é a sua versão dos acontecimentos. 

- Papillon de Henri Charrière, que deu origem ao filme de Franklin J. Schaffner de 1973 com Steve Mc Queen e Dustin Hoffman e que conta as tentativas de fuga de Papillon dos campos de trabalhos forçados da Guiana Francesa. Se o filme era bom, o livro como é habitual é muito melhor. 

E pronto, já chega, fico-me por aqui que vocês já devem estar para aí a dizer: “Mas o que é que eu tenho a ver com o que este tipo lê? Também deve ter a mania que é intelectual. 



VIVAM OS TRABALHADORES DE TODO O MUNDO 

VIVA O 1º DE MAIO 



Caixa Alta, Rádio Castrense 

António Guerreiro/Cristina Ferreira, 01/05/2020

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