sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Cristina Ferreira - Crónicas II (01FEV23019)


Crónica 9.ª

(Caixa Alta S2 - 01FEV2019)

2019 tem, a nível político, dois momentos marcantes: as eleições para o parlamento europeu, a vinte e seis de maio, e a eleição para a Assembleia da República, a seis de outubro.

Marisa Matias será a cabeça de lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias e no programa eleitoral consta a aposta na recuperação dos direitos laborais, na defesa da contratação coletiva e no combate à precariedade e à pobreza.

O segundo eixo do programa eleitoral será a defesa da soberania e dos serviços públicos. Segue-se a reconversão energética, a defesa do investimento público a níveis pré-troika e o crescimento da soberania alimentar.

A aposta do Bloco de Esquerda "em defesa dos muitos e não dos poucos”, é a da representação das causas dos movimentos e das lutas sociais, como forma de concretizar e ampliar a democracia.

À RTP, na sua primeira grande entrevista após ter sido escolhida novamente para liderar a lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias, Marisa Matias considera que estamos numa fase em que é preciso defender os direitos mais básicos e mais fundamentais que nós julgávamos adquiridos".

A eurodeputada do Bloco de Esquerda, que se candidata ao Parlamento Europeu pela terceira vez, admite que "a democracia se viu muito limitada nos últimos anos", tal como "a capacidade de decisão dentro dos próprios Estados-membros" pelas imposições de Bruxelas, continuando essa a ser uma "luta fundamental que tem que ser feita".

A atual eurodeputada admite que tem "o objetivo de aumentar a representação" pois, atualmente, o Bloco de Esquerda é representado unicamente por Marisa Matias, depois de em 2014 ter perdido os dois eurodeputados eleitos em 2009.
Alerta, também, para a ameaça do crescimento significativo de partidos da extrema-direita e que poderá alterar significativamente a representação parlamentar europeia após 26 de maio.

Na perspetiva da eurodeputada, as eleições do dia 26 de maio vão resultar em maior fragmentação do Parlamento Europeu, com "forças partidárias ou grupos parlamentares mais iguais entre si em termos de dimensão", ao contrário do atual, em que "dois grupos parlamentares (centro-esquerda e centro-direita) podiam fazer a maioria", juntando-se num bloco central.

"Prova-se, portanto, que a manutenção de políticas claras e de reais opções políticas para a vida das pessoas tendem a favorecer mais as forças políticas honestas consigo próprias, com o seu programa, com a sua história, do que tentar vender um ideário que não faz outra coisa a não ser destruir um projeto comum", argumenta.

A Europa está "no meio de um turbilhão, de uma tempestade", "um momento muito difícil de desintegração", o que pode explicar porque vários dos partidos portugueses apostaram na continuidade dos eurodeputados que os representam, como é caso do BE;

"Neste momento a experiência pode contar, afirma. Não é apenas a necessidade de renovação, que existe sempre, mas é um momento muito particular, em que aos fatores de desintegração relacionados com a política económica se juntam outros que advêm precisamente de uma agenda de uma Europa solidária ou que sequer possa almejar algum sentido de coesão e de defesa dos direitos mais fundamentais".

Por considerar que "está tudo em aberto”, a eurodeputada alega que cabe ao Bloco de Esquerda “também fazer essa disputa, não só por aquilo que foi o papel e uma marca real do Bloco nos últimos anos nas mudanças em Portugal, mas também exigir ao Partido socialista o que não foi feito".

E por falar em eleições gostaria de deixar aqui algumas considerações ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Almodôvar, António Bota: as eleições autárquicas irão decorrer em setembro ou outubro de 2021, pelo que a promessa de conceder transporte para As Jornadas Mundiais da Juventude de 2022 é, no mínimo, prematura e revela excesso de confiança e esquece fatores essenciais da democracia, a saber: o povo é que decide quem o representa e o estado é laico.

2021 ainda distante no horizonte das eleições autárquicas, mas já assumido como certo, é revelador de que não há a noção do muito que pode acontecer em três anos mas, também do desespero que já leva à caça descarada do voto.



Caixa Alta, Rádio Castrense

Cristina Ferreira, 01/02/2019




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