sexta-feira, 1 de março de 2019

Cristina Ferreira - Crónicas II (01MAR2019)


Crónica 12.ª

(Caixa Alta S2 - 01MAR2019)


Segundo o Jornal Económico, Bruxelas sinaliza Portugal como um país que tem níveis elevados de dívida e crédito malparado pelo que é, assim, muito vulnerável economicamente.

O gabinete de Mário Centeno, perante esta análise da situação económica, apressou-se a afirmar que a economia tem tido um bom desempenho, que o endividamento público e privado diminuiu, que houve criação de emprego e diminuição de desemprego e que a consolidação orçamental apresentou progressos muito significativos.

Se o endividamento continua a ser um fator de desajuste económico, e que provoca uma forte vulnerabilidade, talvez seja conveniente lembrar os milhões de euros que alguns devem, bem como os créditos de risco, bem como as empresas devedoras e os bancos que foram campeões em atribuir créditos ruinosos.

Comecemos pelos bancos: Caixa Geral de Depósitos, Novo Banco e BCP têm 76% das imparidades da banca, segundo o Esquerda.Net.

Alguns dos nomes da lista de beneficiários de créditos ruinosos da Caixa Geral de Depósitos repetem-se quando se procuram grandes devedores dos bancos privados. Segundo o jornal online ECO, de entre os 25 grandes devedores que não pagaram à CGD pelo menos 11 devem igualmente milhões a bancos privados portugueses.

Duplamente devedores, e após auditoria independente realizada à Caixa Geral de Depósitos, o valor é de 1.647 milhões de euros. Se este valor é exorbitante, torna-se ainda mais gravoso quando se refere, somente, a cerca de 25 empresas. Se dessas 11 ainda devem a privados ...

Artlant, Investifino, de Manuel Fino, Fundação Berardo, de Joe Berardo, AE Douro Litoral e Jupiter compõem o top 5 das dívidas à Caixa. A maior devedora, a Artlant, com um projeto de construção de uma fábrica em Sines deve 211 milhões de euros. A fábrica não chegou a existir e ficou a dívida para a CGD, mas para o Santander Totta, essa no valor de 2,3 milhões de euros.

A Lena Hotéis e Turismo apresenta uma dívida de 500 mil euros ao Banco BIC, 2,3 milhões de euros ao Totta, 2 milhões ao Montepio Geral e 15,5 milhões de euros ao Novo Banco. Do restante Grupo Lena sabe-se ainda que, em 2016, devia 305 milhões ao BES.

A sociedade gestora de capitais Finpro (que é detida por dinheiros públicos), deve a cinco bancos privados: BCP (quase 49 milhões de euros), BIC (9,5 milhões), Santander Totta (13,3 milhões), Banif (34,6 milhões) e Crédito Agrícola (6,5 milhões).

A construtora do Grupo Espírito Santo (GES), a Opway, deve 119 milhões ao BPI, 62,8 milhões ao BES, 48 milhões ao BCP, 7,9 milhões ao Banco Popular, 3,3 milhões ao Santander Totta e 2,8 milhões ao BIC.

E Joe Berardo, devedor através da Fundação Berardo e da Metalgest deve 321 milhões de euros à CGD, também devia, em 2016, 309 milhões de euros ao BES, um banco de que se conheceram os créditos ruinosos na sequência da crise que o abalou.

E agora fica a questão: tantos milhões são passíveis de recuperação? Como? Vamos injetar mais capital nos bancos e pagar as ações ruinosas das decisões de uns quantos? Vamos continuar a favorecer alguns, os mesmos de sempre, e prejudicar muitos, também os mesmos de sempre?

Ouve-se sistematicamente que não há dinheiro, mas estes valores, estes milhões de euros assim emprestados ao desbarato, provam o contrário.

Só não há dinheiro para investir nas pessoas, na progressão das carreiras, no Serviço Nacional de Saúde, na cultura, só para referir alguns dos muitos aspetos que necessitam, urgentemente, de ser solucionados.

A vulnerabilidade da economia portuguesa, os desequilíbrios referidos por Bruxelas são, afinal, resultado de uma corrupção consentida que parece ser aceite como natural, mas onde andam os euros e a responsabilização de quem administra estas instituições e dá o aval a estas transações que envolvem tantos riscos e euros?

Qualquer prova de corrupção não será uma afronta ao contrato social e um ato de violência contra o delicado equilíbrio da sociedade? Não merece uma resposta urgente e eficaz por parte dos organismos competentes?


Caixa Alta, Rádio Castrense

Cristina Ferreira, 01/03/2019





Sem comentários:

Enviar um comentário