sexta-feira, 9 de abril de 2021

Cristina Ferreira - Crónicas IV (09ABR2021)

 



A CRISE NÃO É PARA TODOS!

 

A poucas semanas de confirmar nova distribuição recorde de dividendos, a empresa Danone anuncia uma “mudança de modelo operacional” que implica a perda de postos de trabalho em Portugal e Espanha.

Em novembro de 2020, a Danone anunciou um plano para despedir até 2 mil trabalhadores em todas as unidades da empresa com o objetivo de reduzir 3 mil milhões de euros em custos nos próximos 3 anos, mas esta decisão não interferiu com a distribuição recorde de 1.500 milhões de euros em dividendos em abril de 2020. Agora, anuncia um plano de redução de 160 postos de trabalho em Portugal e Espanha, não sendo claro qual será o impacto em cada um dos países. A Danone afirma ainda que “estas mudanças na organização serão realizadas de forma transparente, com diálogo e em acordo com os representantes dos trabalhadores e terão lugar nos próximos meses”: será lógico afirmar que se há lucro não deveriam ocorrer despedimentos, destruição de postos de trabalho?   

Se a Danone pretende “adaptar as suas filiais de Espanha e de Portugal ao novo modelo operacional que a companhia está a delinear” com o objetivo de “ganhar agilidade para responder às exigências do consumidor e dos clientes, reinvestir as poupanças nas marcas e em inovação, com o objetivo recuperar quota de mercado, volume de vendas e regressar ao crescimento rentável e sustentável”, como recorre aos despedimentos e, ao mesmo tempo distribui quantias avultadas em dividendos ou gasta perto de 1000 milhões de euros em publicidade. 

A pressão para ganhos extremos e a curto prazo parece dominar o setor da bolsa: a Danone tem de subir a cotação na bolsa para competir com outras empresas, enquanto o bolso dos trabalhadores tem perdas extremas e a longo prazo.

A vida parece estar fácil para estas empresas multinacionais, para estas corporações, que são de tal maneira poderosas que as suas políticas têm "um profundo impacto nas dietas e nas condições de trabalho em todo o mundo, bem como no ambiente", ditam as escolhas alimentares, as condições dos fornecedores e as opções do consumidor", ou seja, controle total.

Devido à pressão pública, estas corporações têm vindo a assumir o compromisso de implementar políticas sustentáveis para o ambiente e de respeitar os direitos sociais e laborais dos seus trabalhadores, contudo, são comuns os escândalos de utilização de mão-de-obra infantil, de agressões constantes ao meio ambiente e de práticas de verdadeira escravatura.

Assim não é de admirar que mesmo em situação pandémica se criem bilionários, em 2021 o número já vai em 2700, mais 660 do que no início de 2020.

De destacar que Portugal tem duas entradas para esta contagem: a família Amorim, com uma riqueza de 4.6 mil milhões de dólares (através do negócio da cortiça, de posições financeiras e da participação de 18% na Galp); bem como José Neves com a plataforma de venda de marcas de luxo Farfetch, com uma riqueza avaliada em 2.3 mil milhões de dólares (mais 104 milhões nas últimas 24 horas, indica o ranking).

Alguém fez contas e parece que há um novo bilionário a cada 17 horas desde o início da crise. Negócios financeiros como bolhas especulativas nos mercados bolsistas, criptomoedas, entre outros negócios: o setor financeiro nunca produziu tanto para tão poucos, e estes poucos são cada vez mais.

 

Caixa Alta, Rádio Castrense

Cristina Ferreira, 09/04/2021


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