A
CRISE NÃO É PARA TODOS!
A
poucas semanas de confirmar nova distribuição recorde de dividendos, a empresa
Danone anuncia uma “mudança de modelo operacional” que implica a perda de
postos de trabalho em Portugal e Espanha.
Em
novembro de 2020, a Danone anunciou um plano para despedir até 2 mil
trabalhadores em todas as unidades da empresa com o objetivo de reduzir 3 mil
milhões de euros em custos nos próximos 3 anos, mas esta decisão não interferiu
com a distribuição recorde de 1.500 milhões de euros em dividendos em abril de
2020. Agora, anuncia um plano de redução de 160 postos de trabalho em Portugal
e Espanha, não sendo claro qual será o impacto em cada um dos países. A Danone
afirma ainda que “estas mudanças na organização serão realizadas de forma
transparente, com diálogo e em acordo com os representantes dos trabalhadores e
terão lugar nos próximos meses”: será lógico afirmar que se há lucro não
deveriam ocorrer despedimentos, destruição de postos de trabalho?
Se
a Danone pretende “adaptar as suas filiais de Espanha e de Portugal ao novo
modelo operacional que a companhia está a delinear” com o objetivo de “ganhar
agilidade para responder às exigências do consumidor e dos clientes, reinvestir
as poupanças nas marcas e em inovação, com o objetivo recuperar quota de mercado,
volume de vendas e regressar ao crescimento rentável e sustentável”, como
recorre aos despedimentos e, ao mesmo tempo distribui quantias avultadas em
dividendos ou gasta perto de 1000 milhões de euros em publicidade.
A
pressão para ganhos extremos e a curto prazo parece dominar o setor da bolsa: a
Danone tem de subir a cotação na bolsa para competir com outras empresas,
enquanto o bolso dos trabalhadores tem perdas extremas e a longo prazo.
A
vida parece estar fácil para estas empresas multinacionais, para estas
corporações, que são de tal maneira poderosas que as suas políticas têm
"um profundo impacto nas dietas e nas condições de trabalho em todo o
mundo, bem como no ambiente", ditam as escolhas alimentares, as condições
dos fornecedores e as opções do consumidor", ou seja, controle total.
Devido
à pressão pública, estas corporações têm vindo a assumir o compromisso de
implementar políticas sustentáveis para o ambiente e de respeitar os direitos
sociais e laborais dos seus trabalhadores, contudo, são comuns os escândalos de
utilização de mão-de-obra infantil, de agressões constantes ao meio ambiente e
de práticas de verdadeira escravatura.
Assim
não é de admirar que mesmo em situação pandémica se criem bilionários, em 2021
o número já vai em 2700, mais 660 do que no início de 2020.
De
destacar que Portugal tem duas entradas para esta contagem: a família Amorim,
com uma riqueza de 4.6 mil milhões de dólares (através do negócio da cortiça,
de posições financeiras e da participação de 18% na Galp); bem como José Neves
com a plataforma de venda de marcas de luxo Farfetch, com uma riqueza avaliada
em 2.3 mil milhões de dólares (mais 104 milhões nas últimas 24 horas, indica o
ranking).
Alguém
fez contas e parece que há um novo bilionário a cada 17 horas desde o início da
crise. Negócios financeiros como bolhas especulativas nos mercados bolsistas,
criptomoedas, entre outros negócios: o setor financeiro nunca produziu tanto
para tão poucos, e estes poucos são cada vez mais.
Cristina Ferreira, 09/04/2021
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