sexta-feira, 23 de abril de 2021

Cristina Ferreira - Crónicas IV (23ABR2021)

 




25 DE ABRIL – CAMINHO ÁRDUO DE LIBERDADE

 

Após pouco mais de um ano de restrições sociais por conta de uma situação sanitária pandémica, por todos nós conhecida, eis-nos às portas de mais uma comemoração que relembra a cada homem, a cada mulher, o dia em que alcançámos o inalcançável: LIBERDADE!

E há 47 anos estamos construindo essa realidade, outrora uma utopia.

Em muitas áreas da nossa sociedade houve significativos avanços, noutras parecemos estar a recuar e outras ainda, por medo ou falta de imaginação, nem sequer as iniciámos. Há que refinar, impulsionar, atrever-nos a alcançar mais longe, derrubar estigmas, abandonar preconceitos e a cada dia concretizar o sonho de alcançar o inalcançável. Façamo-lo em LIBERDADE!

Os estados de emergência decretados, uns a seguir aos outros, no último ano, suspenderam e continuam a suspender liberdades, e por mais leve que essa suspensão fosse, o resultado é que liberdades que dávamos como garantidas, foram suspensas, por decreto. É preciso estar em alerta e não deixar transformar em ordinário o que é extraordinário.

Mas o que é mesmo extraordinário, neste tempo de necessidade, de restrição e de incerteza, é que o que era ordinário há quase meio século atrás, esteja a renascer.

Assistimos à reafirmação e massificação ideológica e política do extremismo de direita, atualmente personificados na figura de atores políticos chegados recentemente à casa da democracia e congéneres tanto nacionais como locais, ou em aspirantes a órgãos, sujeitos a escrutínio universal e democrático, onde exercem ou exercerão junto do povo os seus valores de liberdade, os seus valores de democracia, os seus valores de igualdade de oportunidades.

Assistimos ao ressurgimento de coisas que julgávamos fechadas à chave, no lado de lá da porta que fechámos há 47 anos atrás. Mas, afinal, a porta estava fechada no trinco, e de frouxo que era, abriu-se deixando assim escapar pela fresta, coisas que parecem novas, pelo menos para aqueles que não as conheceram noutra altura, e úteis para aqueles que são saudosistas das coisas do outro tempo.

E no outro tempo o que havia era um país decrépito, analfabeto, doente, ignorante, faminto, em luto pelos seus filhos que foram morrer numa guerra lá fora, mas apesar de tudo até era um país sereno, respeitador e feliz na sua ignorância e à mercê de uma casta política de elite respaldada numa polícia secreta que atuava com toda a força do estado sobre quem ousasse questionar a sua miséria.

A Revolução dos Cravos rompeu com tudo isto, e acima de tudo, trouxe-nos a possibilidade de escolher a sociedade que queremos, atuando individual e coletivamente nos caminhos da democracia.

Este é um caminho que não é fácil, e muitas vezes há armadilhas no percurso que fazem perigar todo o esforço feito até aí e muitas mais vezes deparamo-nos com obstáculos que pela sua grandiosidade, são difíceis de superar. A corrupção, a xenofobia, o racismo, o sexismo, a homofobia, a escravidão e a precariedade laboral, a injustiça social, económica e judicial, são alguns deles. É desmotivante, mas não é impossível superar e combatê-las.

O combate faz-se com coerência, pessoal e coletiva, e ser coerente é agir em concordância com o que se diz e pensa.

Combater a corrupção é agir em coerência pessoal e coletiva contra esse cancro na sociedade. Não é dizer-se a favor do reforço de leis anticorrupção, e depois chumbá-las na Assembleia da República, e pior, prestar serviço de defesa e de consultoria aos alegados corruptores.

Combater a injustiça social é agir coerentemente a nível pessoal e coletivo, criando condições sociais justas para todos os homens e mulheres deste país. Não é jogar ao faz de conta que dá, mas na verdade cria obstáculos, condições de acesso, trâmites, pontos e virgulas tais que somente uns poucos podem beneficiar. E o mesmo na justiça económica, e o mesmo na justiça judicial.

Combater a corrupção com corrupção não faz sentido. Combater a xenofobia com xenofobia é uma estupidez, igualmente com o racismo e o sexismo e por aí em diante. Em outras palavras, o combate aos podres da nossa sociedade, não se faz com mais podres. Este combate não é feito de simpatias nem de palmadinhas nas costas, de coisas que soam bem aos ouvidos, nem de populismos, nem de oratória exuberante de dedo em riste. Faz-se com seriedade ideológica e ações coerentes pessoal e coletivamente.

O 25 de abril de 1974 foi o 1º dia de liberdade, mas também o primeiro de muitos mais de árdua construção.

25 de Abril, Sempre! Fascismo, nunca mais!

 

Caixa Alta, Rádio Castrense

Cristina Ferreira, Filipe M Santos, 23/04/2021

 


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