sábado, 1 de maio de 2021

Cristina Ferreira - Crónicas IV (30ABR2021)

 

Foto: Paulete Matos (em Esquerda.Net)


DIA DO TRABALHADOR - 2021

 

Podemos afirmar que a Greve Geral de 1886 e a manifestação de 500 mil trabalhadores em Chicago nos Estados Unidos, são os eventos percursores que deram origem ao 1º de Maio – Dia do Trabalhador.

Esta efeméride é celebrada em Portugal desde 1890, o primeiro ano da sua realização internacional, e veio a evoluir, adquirindo características de ação de massas a par de um sindicalismo cada vez mais reivindicativo, consolidado e ampliado.

Cumprem-se 135 anos desses primeiros eventos, os primeiros passos na resposta à completa desregulação das relações laborais à época, prenunciadas por Karl Marx, na sua obra, agravadas pela transformação das cadeias produtivas por força da mecanização, ao invés de conduzir a uma maior libertação do Homem.

Em Portugal, 1974 é eventualmente o ano do 1º de Maio mais extraordinário alguma vez realizado, tal como o testemunhou o jornal Comércio do Porto que lhe dedicou uma edição especial. Em 1962 a relevante e carregada de simbolismo celebração do Dia do Trabalhador, apesar das proibições e repressão do Estado Novo, trouxe à rua em algumas cidades, manifestações de centenas de milhares de trabalhadores, percussoras das revoltas dos assalariados agrícolas que com a sua luta conseguiram obter a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias. Já antes, em 1919, os trabalhadores do comércio e da indústria haviam conquistado a jornada de oito horas.

Muitas outras conquistas foram alcançadas, fruto de muitas lutas e cada uma delas justificam a celebração do Dia do trabalhador. A humanização dos horários de trabalho, a melhoria dos salários, a segurança, a qualificação, a previdência são exemplos entre tantas outras.

Celebrar o 1º de Maio, é lembrar todas as lutas travadas contra o capital e lembrar as conquistas alcançadas. Mas é também perspetivar os desafios presentes e futuros.

Vivemos novas formas de trabalho e consequentemente, novas formas de redução de direitos, nem sempre tão evidentes, mas que ameaçam o equilíbrio laboral, social e económico. O fenómeno Uber, em que o motorista é, sem outra possibilidade de escolha, o seu próprio patrão, é um exemplo disso mesmo. Ou mesmo o trabalho à distância, dito “on-line” que esbate as linhas de espaço, de tempo e de recursos entre a vida no trabalho e fora dele.

A indústria, os serviços, a economia estão a transformar-se por força da computorização, informatização e robotização dos processos, e a crise pandémica tem-no impulsionado ainda mais.

Estamos em “Uma nova era de escravidão digital”, considera Ricardo Antunes. Segundo este sociólogo brasileiro, “Estamos em uma fase tão destrutiva do capitalismo financeiro que a exigência que sua lógica tenta nos impor, em escala planetária, é a do trabalho cada vez mais flexível, sem jornadas pré-determinadas, sem espaço laboral definido, sem remuneração fixa, sem direitos, nem mesmo o direito de organização sindical. É desse modo que o capitalismo informacional, digital e financeiro vem aprimorando a sua engenharia da dominação.”

Estamos no momento de viragem do trabalho: o chamado Trabalho 4.0 e serão muitos os desafios para superar. Não é, por isso, descabido fazermos do 1º de Maio o Dia do Trabalhador 4.0.

 

Caixa Alta, Rádio Castrense

Filipe M Santos/Cristina Ferreira, 30/04/2021


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