Foto: Paulete Matos (em Esquerda.Net) |
DIA DO TRABALHADOR -
2021
Podemos afirmar que a Greve
Geral de 1886 e a manifestação de 500 mil trabalhadores em Chicago nos Estados
Unidos, são os eventos percursores que deram origem ao 1º de Maio – Dia do
Trabalhador.
Esta efeméride é celebrada em
Portugal desde 1890, o primeiro ano da sua realização internacional, e veio a
evoluir, adquirindo características de ação de massas a par de um sindicalismo cada
vez mais reivindicativo, consolidado e ampliado.
Cumprem-se 135 anos desses
primeiros eventos, os primeiros passos na resposta à completa desregulação das
relações laborais à época, prenunciadas por Karl Marx, na sua obra, agravadas
pela transformação das cadeias produtivas por força da mecanização, ao invés de
conduzir a uma maior libertação do Homem.
Em Portugal, 1974 é
eventualmente o ano do 1º de Maio mais extraordinário alguma vez realizado, tal
como o testemunhou o jornal Comércio do Porto que lhe dedicou uma edição
especial. Em 1962 a relevante e carregada de simbolismo celebração do Dia do
Trabalhador, apesar das proibições e repressão do Estado Novo, trouxe à rua em
algumas cidades, manifestações de centenas de milhares de trabalhadores,
percussoras das revoltas dos assalariados agrícolas que com a sua luta
conseguiram obter a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias. Já
antes, em 1919, os trabalhadores do comércio e da indústria haviam conquistado
a jornada de oito horas.
Muitas outras conquistas foram
alcançadas, fruto de muitas lutas e cada uma delas justificam a celebração do
Dia do trabalhador. A humanização dos horários de trabalho, a melhoria dos
salários, a segurança, a qualificação, a previdência são exemplos entre tantas
outras.
Celebrar o 1º de Maio, é
lembrar todas as lutas travadas contra o capital e lembrar as conquistas
alcançadas. Mas é também perspetivar os desafios presentes e futuros.
Vivemos novas formas de
trabalho e consequentemente, novas formas de redução de direitos, nem sempre tão
evidentes, mas que ameaçam o equilíbrio laboral, social e económico. O fenómeno
Uber, em que o motorista é, sem outra possibilidade de escolha, o seu próprio
patrão, é um exemplo disso mesmo. Ou mesmo o trabalho à distância, dito
“on-line” que esbate as linhas de espaço, de tempo e de recursos entre a vida
no trabalho e fora dele.
A indústria, os serviços, a
economia estão a transformar-se por força da computorização, informatização e
robotização dos processos, e a crise pandémica tem-no impulsionado ainda mais.
Estamos em “Uma nova era de
escravidão digital”, considera Ricardo Antunes. Segundo este sociólogo
brasileiro, “Estamos em uma fase tão destrutiva do capitalismo financeiro que a
exigência que sua lógica tenta nos impor, em escala planetária, é a do trabalho
cada vez mais flexível, sem jornadas pré-determinadas, sem espaço laboral
definido, sem remuneração fixa, sem direitos, nem mesmo o direito de
organização sindical. É desse modo que o capitalismo informacional, digital e
financeiro vem aprimorando a sua engenharia da dominação.”
Estamos no momento de viragem
do trabalho: o chamado Trabalho 4.0 e serão muitos os desafios para superar.
Não é, por isso, descabido fazermos do 1º de Maio o Dia do Trabalhador 4.0.
Filipe M Santos/Cristina
Ferreira, 30/04/2021
Sem comentários:
Enviar um comentário