sexta-feira, 21 de maio de 2021

Cristina Ferreira - Crónicas IV (21MAI2021)

 



RECORDAR CATARINA

 

Passou, a 19-05-2021, mais um ano sobre a data do assassinato de Catarina Eufémia, concretamente o 67º.

Nascida a 13 de fevereiro de 1928 no Monte do Olival – Baleizão, filha de trabalhadores agrícolas. Desde muito nova começou a trabalhar em casa e na adolescência na agricultura, dedicando-se a fazer um pouco de tudo como era normal na altura, desde a monda, à ceifa, à apanha da azeitona etc. e como também era normal naqueles tempos, não frequentou a escola.

Com 17 anos casou com António Joaquim do Carmo que era operário na Companhia União Fabril (CUF) e mudou-se para o Barreiro. António viria a ser despedido e regressaram a Baleizão, ela voltou aos trabalhos agrícolas e ele tornou-se cantoneiro.

A 19 de Maio de 1954, e na sequência de uma manifestação de trabalhadores agrícolas que reivindicavam melhores salários e melhores condições de trabalho, Catarina que liderava um grupo de ceifeiras viria a ser assassinada pelo tenente Carrajola da GNR de Beja. Catarina era mãe de três filhos e contava somente vinte e seis anos de idade.

O assassino foi a julgamento, mas seria absolvido. Justificação: a morte terá sido causada por um tiro acidental. Curioso, quando a autópsia viria a revelar que Catarina foi atingida por três tiros.

A campa de Catarina Eufémia, no cemitério de Baleizão tem uma lápide onde se pode ler que Catarina Eufémia seria militante do Partido Comunista Português.

Recordo aqui que, há alguns anos e na presença de Francisco Louçã, o marido de Catarina, então ainda vivo, António do Carmo, conhecido em Baleizão por Carmona afirmou que Catarina nunca teve qualquer filiação partidária.

Com ou sem filiação partidária, é bom que não se perca o hábito de homenagear Catarina, símbolo de oposição ao Estado Novo e da luta contra a exploração dos trabalhadores.

E foi isso que, mais uma vez, ocorreu a 19 de Maio em Baleizão por parte do Bloco de Esquerda que homenageia também neste dia o seu sobrinho Manuel da Saudade, dinamizador da UCP “Terra de Catarina”.

Se é verdade que mudaram os tempos, que o Estado Novo caiu em 25 de Abril de 1974 ainda não mudaram os hábitos de exploração dos trabalhadores, como se pode verificar, por exemplo no que se passa no concelho de Odemira com os [trabalhadores] imigrantes vítimas das máfias de tráfico humano ao serviço do lucro dos patrões.

É por isso que temos de recordar Catarina e a sua luta para que, de uma vez por todas, acabemos com exploração do homem pelo homem.

 

                                                                  HONRA A CATARINA

 

Caixa Alta, Rádio Castrense

Cristina Ferreira / António Guerreiro, 21/05/2021


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