sexta-feira, 13 de março de 2020

Cristina Ferreira - Crónicas III (13MAR2020)




Estar consciente, para salvar o ambiente!
- Greve Climática Estudantil

Rafael Costa, mandatário da juventude pelo Bloco de Esquerda no distrito de Beja, apresenta uma reflexão sobre a atualidade, nomeadamente sobre as alterações climáticas, respetivas implicações e responsabilidades tanto a nível individual como coletivo, pois deve-se Estar consciente, para salvar o ambiente!
Soubemos que a Greve Climática Estudantil que se realizaria hoje, dia 13 de março, a nível nacional foi cancelada. Efetivamente, esta foi a medida correta tendo em conta o surto de Covid-19, vulgo Coronavírus, entretanto já considerada uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde. Tendo presentes todas as recomendações, tanto nacionais como internacionais, e em nome da segurança e saúde pública, esta importante Greve realizar-se-á numa data posterior. Ainda assim, está convocada para amanhã uma Greve Climática Digital, através da partilha de fotos de cartazes na Internet. Espero que permita um grande alcance e não deixe os utilizadores indiferentes.
Mas que toda esta situação não nos faça esquecer as questões climáticas, que não nos retire o foco de um assunto tão importante. Se há vítimas deste novo vírus, também há muitas vítimas das alterações climáticas, que dão origem a refugiados, à destruição de ecossistemas, à morte de muitas espécies. A crise climática é também ela muito preocupante, muito séria e não é uma situação nova. Tem vindo a arrastar-se e a fazer milhares de vítimas.
Bem sabemos que tudo isto passa ao lado dos dirigentes políticos a nível internacional, que por conta dos interesses económicos, permitem o agravar de uma situação que pode condenar-nos o futuro. As questões ambientais devem preocupar-nos bastante, enquanto jovens. O que não aceitamos é que os mais velhos, sem perspetivas de futuro, consigam ter a coragem de aniquilar o nosso, de destruir o dia de amanhã dos seus filhos e netos. Não podemos aceitar. Também sabemos que Não há planeta B… e se quem tem poder para implementar reais medidas que permitam alterações e evoluções prefere ignorar e nada fazer, lamento informar que não nos representam. O ambiente tem sido um dos principais campos de ação do Bloco de Esquerda, ninguém pode ficar indiferente e é necessário exigir mudanças. E é por isso também que, desde o primeiro dia, o Bloco de Esquerda tem manifestado total apoio à Greve Climática Estudantil, reconhecendo a sua importância e o seu papel a nível mundial na pressão política e exigência de respostas.
É urgente que exista a coragem para que os vários Estados se unam, não apenas na declaração do estado de emergência climática, mas também através de medidas concretas, como a substituição dos combustíveis fósseis por energias renováveis, fomentando e facilitando o acesso a meios de transporte públicos que não poluam.
Não nos tentem convencer de que todos os problemas ambientais se resolvem com alterações nos comportamentos individuais. É verdade que é muito importante ações como reciclar, reutilizar, não desperdiçar, não gastar sem necessidade (por exemplo, não utilizando plásticos). E com certeza é uma boa ajuda. Só que não podem vir os dirigentes e os responsáveis por tudo isto (que nem olham ao ambiente pela cegueira do dinheiro), dizer-nos que não está nas suas mãos resolver esta crise.
Em Portugal, há muito a fazer. E o mais preocupante é que o assunto principal parece ser a possibilidade de construção de um novo aeroporto no Montijo, quando permanece em Beja um condenado ao abandono. Aliás, parece a prioridade estar no investimento em meios de transporte poluentes. Outra praga que assistimos, principalmente no Alentejo, são as monoculturas intensivas de olival e amendoal, que recorrem à utilização de fitofármacos, que envenenam os solos e contaminam cursos de água. Já para não falar no desperdício de recursos, até hídricos, para sustentar culturas em que a qualidade do produto deixa muito a desejar.
A própria União Europeia, que deveria ter uma responsabilidade acrescida nesta matéria, vai adiando a neutralidade carbónica para 2050 e atrasando medidas essenciais no combate às alterações climáticas. Mas se realmente se está a discutir uma Lei Climática, pode agradecer-se ao corajoso trabalho da jovem ativista Greta Thunberg, que conseguiu mobilizar gerações de jovens e sensibilizar muitas pessoas para todos estes problemas. E, dessa forma, também teve importância simbólica a sua passagem por Portugal. Só que a União Europeia também deve ter o papel fulcral de apoiar os países com mais dificuldades, nomeadamente no investimento em energias renováveis. Portugal tem vindo, ao longo do tempo, a desenvolvê-las, nomeadamente a energia solar, eólica e hídrica e tem condições naturais que permitem fazer mais e melhor, aumentando também a própria eficiência.
Continua a fazer-me confusão como se colocam os interesses económicos acima dos interesses do planeta. Provavelmente fingem esquecer-se de que sem este planeta, de nada serve o dinheiro. E depois? Pretendem habitar em Marte, para iniciar uma nova destruição? Nada pode ser mais perigoso do que as vozes céticas que olham para tudo isto como uma invenção. As vozes que não respeitam a ciência e descredibilizam o trabalho daqueles que alertam para o pior. Mas… culpados? Realmente há muitos. Principalmente os responsáveis pela exploração dos produtos altamente poluentes, bem como dos que produzem desenfreadamente produtos descartáveis, supérfluos, sem durabilidade, mas que alimentam a sede capitalista do consumismo.
Estes discursos são muito alimentados por Donald Trump, e até Jair Bolsonaro, que insistentemente teimam em retirar o mérito às associações que procuram a preservação do ambiente. Vejamos a grande potência que são os EUA, que concentram nas suas mãos muitas das decisões importantes… e depois olhamos para um Presidente que desmente as alterações climáticas, ou o aquecimento global, logo através da saída do Acordo de Paris.
Olho para a minha geração e para as gerações mais consciencializadas relativamente às questões ambientais e consigo depositar alguma esperança na Humanidade. Mas se tudo se mantiver igual, temo que seja tarde demais. Temo que seja impossível reverter esta situação catastrófica, em que “futuro” significará pouco mais que obscuro.

Caixa Alta, Rádio Castrense
Cristina Ferreira / Rafael Costa, 13/03/2020


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