Estar
consciente, para salvar o ambiente!
- Greve Climática Estudantil
Rafael Costa, mandatário da juventude pelo Bloco de
Esquerda no distrito de Beja, apresenta uma reflexão sobre a atualidade,
nomeadamente sobre as alterações climáticas, respetivas implicações e
responsabilidades tanto a nível individual como coletivo, pois deve-se Estar
consciente, para salvar o ambiente!
Soubemos
que a Greve Climática Estudantil que se realizaria hoje, dia 13 de março, a
nível nacional foi cancelada. Efetivamente, esta foi a medida correta tendo em
conta o surto de Covid-19, vulgo Coronavírus, entretanto já considerada uma
pandemia pela Organização Mundial de Saúde. Tendo presentes todas as
recomendações, tanto nacionais como internacionais, e em nome da segurança e
saúde pública, esta importante Greve realizar-se-á numa data posterior. Ainda
assim, está convocada para amanhã uma Greve Climática Digital, através da
partilha de fotos de cartazes na Internet. Espero que permita um grande alcance
e não deixe os utilizadores indiferentes.
Mas
que toda esta situação não nos faça esquecer as questões climáticas, que não
nos retire o foco de um assunto tão importante. Se há vítimas deste novo vírus,
também há muitas vítimas das alterações climáticas, que dão origem a
refugiados, à destruição de ecossistemas, à morte de muitas espécies. A crise
climática é também ela muito preocupante, muito séria e não é uma situação
nova. Tem vindo a arrastar-se e a fazer milhares de vítimas.
Bem
sabemos que tudo isto passa ao lado dos dirigentes políticos a nível
internacional, que por conta dos interesses económicos, permitem o agravar de
uma situação que pode condenar-nos o futuro. As questões ambientais devem
preocupar-nos bastante, enquanto jovens. O que não aceitamos é que os mais
velhos, sem perspetivas de futuro, consigam ter a coragem de aniquilar o nosso,
de destruir o dia de amanhã dos seus filhos e netos. Não podemos aceitar. Também
sabemos que Não há planeta B… e se quem tem poder para implementar reais
medidas que permitam alterações e evoluções prefere ignorar e nada fazer,
lamento informar que não nos representam. O ambiente tem sido um dos principais
campos de ação do Bloco de Esquerda, ninguém pode ficar indiferente e é
necessário exigir mudanças. E é por isso também que, desde o primeiro dia, o
Bloco de Esquerda tem manifestado total apoio à Greve Climática Estudantil,
reconhecendo a sua importância e o seu papel a nível mundial na pressão
política e exigência de respostas.
É
urgente que exista a coragem para que os vários Estados se unam, não apenas na
declaração do estado de emergência climática, mas também através de medidas
concretas, como a substituição dos combustíveis fósseis por energias
renováveis, fomentando e facilitando o acesso a meios de transporte públicos
que não poluam.
Não
nos tentem convencer de que todos os problemas ambientais se resolvem com
alterações nos comportamentos individuais. É verdade que é muito importante
ações como reciclar, reutilizar, não desperdiçar, não gastar sem necessidade
(por exemplo, não utilizando plásticos). E com certeza é uma boa ajuda. Só que
não podem vir os dirigentes e os responsáveis por tudo isto (que nem olham ao
ambiente pela cegueira do dinheiro), dizer-nos que não está nas suas mãos
resolver esta crise.
Em
Portugal, há muito a fazer. E o mais preocupante é que o assunto principal
parece ser a possibilidade de construção de um novo aeroporto no Montijo,
quando permanece em Beja um condenado ao abandono. Aliás, parece a prioridade
estar no investimento em meios de transporte poluentes. Outra praga que
assistimos, principalmente no Alentejo, são as monoculturas intensivas de
olival e amendoal, que recorrem à utilização de fitofármacos, que envenenam os
solos e contaminam cursos de água. Já para não falar no desperdício de
recursos, até hídricos, para sustentar culturas em que a qualidade do produto
deixa muito a desejar.
A
própria União Europeia, que deveria ter uma responsabilidade acrescida nesta
matéria, vai adiando a neutralidade carbónica para 2050 e atrasando medidas
essenciais no combate às alterações climáticas. Mas se realmente se está a
discutir uma Lei Climática, pode agradecer-se ao corajoso trabalho da jovem ativista
Greta Thunberg, que conseguiu mobilizar gerações de jovens e sensibilizar
muitas pessoas para todos estes problemas. E, dessa forma, também teve
importância simbólica a sua passagem por Portugal. Só que a União Europeia
também deve ter o papel fulcral de apoiar os países com mais dificuldades,
nomeadamente no investimento em energias renováveis. Portugal tem vindo, ao
longo do tempo, a desenvolvê-las, nomeadamente a energia solar, eólica e
hídrica e tem condições naturais que permitem fazer mais e melhor, aumentando
também a própria eficiência.
Continua
a fazer-me confusão como se colocam os interesses económicos acima dos
interesses do planeta. Provavelmente fingem esquecer-se de que sem este
planeta, de nada serve o dinheiro. E depois? Pretendem habitar em Marte, para
iniciar uma nova destruição? Nada pode ser mais perigoso do que as vozes
céticas que olham para tudo isto como uma invenção. As vozes que não respeitam
a ciência e descredibilizam o trabalho daqueles que alertam para o pior. Mas…
culpados? Realmente há muitos. Principalmente os responsáveis pela exploração
dos produtos altamente poluentes, bem como dos que produzem desenfreadamente
produtos descartáveis, supérfluos, sem durabilidade, mas que alimentam a sede
capitalista do consumismo.
Estes
discursos são muito alimentados por Donald Trump, e até Jair Bolsonaro, que
insistentemente teimam em retirar o mérito às associações que procuram a
preservação do ambiente. Vejamos a grande potência que são os EUA, que
concentram nas suas mãos muitas das decisões importantes… e depois olhamos para
um Presidente que desmente as alterações climáticas, ou o aquecimento global,
logo através da saída do Acordo de Paris.
Olho
para a minha geração e para as gerações mais consciencializadas relativamente
às questões ambientais e consigo depositar alguma esperança na Humanidade. Mas
se tudo se mantiver igual, temo que seja tarde demais. Temo que seja impossível
reverter esta situação catastrófica, em que “futuro” significará pouco mais que
obscuro.
Caixa
Alta, Rádio Castrense
Cristina
Ferreira / Rafael Costa, 13/03/2020
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