sexta-feira, 24 de julho de 2020

Cristina Ferreira - Crónicas III (24JUL2020)






VAMOS A BANHOS NA BARRAGEM?


Surgiu recentemente, em Almodôvar, um movimento encabeçado por António Bota, a favor do desenvolvimento de uma barragem para aproveitamento da água da ribeira de Oeiras, e que considera importante para Almodôvar e sub-região do Campo Branco. Reconhece, no entanto, que a execução de tal obra está fora da capacidade e jurisdição de uma câmara municipal e apela, por conta disso, à adesão de todos os cidadãos desta região à Petição que irá ser entregue na Assembleia da República.

Solidariamente, António José Brito, presidente da Câmara Municipal de Castro Verde, está em concordância e apoia a ideia do congênere socialista, focando-se nas questões emergentes fruto das alterações climáticas para argumentar sobre a sua posição.

Se para António Bota não existem dúvidas quanto à importância deste empreendimento que defende ter de ser construído num sítio bom, que não destrua propriedade e permita vários tipos de usufruto, para o núcleo concelhio do Bloco de Esquerda de Almodôvar existem muitas dúvidas, particularmente no que diz respeito aos usufrutos, financiamento, segurança, e claro, ambiente.

Desde há vários anos que o Bloco de Esquerda entende que a água é um bem vital e que a gestão dos recursos hídricos não deve estar na mão de privados. Nessa linha de pensamento, concorda com a iniciativa do autarca de Almodôvar. É fundamental criar reservas deste precioso bem para suprir carências futuras e que se prevê agravarem-se nos próximos anos. Mas, a concordância fica-se por aqui.

Na implementação de um projeto público desta dimensão, há que olhar também para outros aspetos, atrás já mencionados, e são estes que merecem a apreensão deste núcleo.
O anúncio desta iniciativa, e toda a sua argumentação, foi aplaudida com entusiasmo, mas mereceria igual ovação se:
  •          Na argumentação fosse incluído explicitamente o benefício para o velho projeto da herdade da camacha?
  •          Fosse dito quais os agricultores e criadores de gado que seriam beneficiados desta iniciativa?
  •          Fosse explicado de onde sairia o dinheiro para financiar esta obra, ou seja, quanto custaria aos bolsos dos Peticionistas da Barragem de Oeiras?
  •          Fosse lembrado que parte do trajeto desta ribeira passa a escassos metros de uma indústria altamente poluente, a mineira Somincor, e é ladeada por barragens de reserva e de contenção de efluentes industriais, representando por isso mesmo um risco de contaminação?
  •          Sabendo que a Águas Públicas do Alentejo detém a concessão da água no Alentejo, qual o interesse desta empresa nesta obra?

Cingindo-nos apenas à água para consumo humano, sobre a qual a Águas Públicas do Alentejo, SOCIEDADE ANÓNIMA, detém direitos de abastecimento e saneamento em regime de exclusividade até 2059, como é que a Barragem de Oeiras beneficiaria os cidadãos Almodovarenses, Castrenses e Mertolenses?

A distribuição do precioso líquido seria feita em rede paralela à da Águas Públicas do Alentejo ou haveria algum tipo de acordo comercial com esta empresa?

Far-se-ia a dita barragem que depois seria entregue à AgdA por igual período à concessão existente?

São muitas as dúvidas que pela importância, abrangência, complexidade deste projeto, nos deixam demasiado apreensivos.

E, felizmente, haja alguém apreensivo, porque na vontade de António Bota, se estivesse sob a jurisdição da câmara a que preside, começava já  a construir amanhã, até porque o problema das autorizações aos diversos ministérios e várias organizações, subentende-se, para ele seria um caso menor.




Filipe M Santos / Cristina Ferreira, 24/07/2020

Sem comentários:

Enviar um comentário