TEMPOS ESTRANHOS QUE A PANDEMIA ACENTUA
A urgência do tempo presente, ampliado pelos meios de
comunicação social com recurso a opinadores que tudo sabem, a técnicos,
cientistas e a vítimas do acaso, do desleixo e da necessidade, tornou
primordial o assunto e conduz a decisões pessoais e políticas nem sempre
determinadas pela desejada racionalidade, mesmo sabendo que a sua importância é
tanto maior quanto mais delicados os problemas a enfrentar.
Confinar, limitar, proibir, amedrontar com o objetivo de
evitar a doença, pode significar perturbação da saúde, perda de oportunidades
de aprendizagem e desenvolvimento, sobretudo em crianças e jovens, e causa de
aprofundamento de uma das mais antigas e persistentes ‘doenças’ em Portugal: a
perpetuação das desigualdades sociais que tem na Educação a sua causa primeira,
afirma Carlos Ferreira, Diretor da Faculdade de Educação Física e Desporto da
Universidade Lusófona.
Tempos estranhos que a pandemia acentua.
Na opinião de Rui Pereira, os professores têm muitos
motivos para se revoltarem com este ministério da educação, que leva já seis
anos, mas que não consegue resolver problemas na educação. Uns motivos serão
mais graves do que outros, mas o que une os professores são motivos que
interferem com a remuneração ou com a despesa para trabalharem:
– O movimento do apagão do ensino à distância por 15
minutos, e em crescendo semanal com mais períodos de apagão, reflete o aumento
da despesa com o teletrabalho e uso de equipamentos pessoais, quando a lei
prevê a cedência de equipamentos pelos empregadores e o pagamento de despesas
adicionais de eletricidade. Mais uma vez a classe docente fica à margem da lei,
que não se lhes aplica.
– Outro fator a provocar descontentamento aos professores,
visto que também foram a exceção à regra no combate à pandemia, é o não
cumprimento da distância de segurança nas salas de aula.
Outros há, mais estruturais, como a necessidade de um
modelo de gestão mais democrático e com mais equilíbrio de poderes, bem como a
sistemática desvalorização da profissão, que está a provocar falta de
profissionais e alunos sem aulas, a revisão dos horários a concurso para terem
um mínimo de horas, a vinculação, para falar só dos mais importantes.
Concluindo, começam a aparecer movimentações
reivindicativas na classe docente, apesar das araras continuarem a ouvir-se –
com o argumento de que agora não é o momento –, mas a maioria da classe começou
a sentir na pele as discriminações e incongruências do poder excessivo dos
diretores, da ausência do ministro, etc. Por fim, tenha-se presente o caso
inglês, em que sindicatos e diretores, falam da necessidade de rever o acordo
coletivo de trabalho, se houver prolongamento do horário ou menos férias de
verão – diretores do lado dos professores e não a meio da ponte… conclui Rui
Pereira.
O momento para resolver os problemas é agora, enquanto
acontecem, enquanto as fragilidades e debilidades estão visíveis, pois é
possível reinventar o espaço da escola e contar com a sua experiência para
permitir segurança e que estas sejam abertas o quanto antes”, afirmou Catarina
Martins. E deixou um apelo: que o executivo faça aquilo que “disse que ia fazer
antes do início deste ano letivo e não fez”, ou seja, “preparar as escolas para
esse modelo de ensino”.
No que respeita ao facto de o governo querer impor
critérios para a atribuição do apoio, a coordenadora do Bloco de Esquerda
lamentou que o executivo tente “encontrar mais situações para exclusão dos
apoios” do que para incluir mais pessoas, pois as escolas não podem, em momento
algum, ficar para trás nas preocupações do governo.
Fonte:
https://www.comregras.com/educacao-evitar-a-doenca-e-cuidar-da-saude-por-jorge-proenca/
https://www.comregras.com/acordai/
Cristina Ferreira, 19/02/2021
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