sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Cristina Ferreira - Crónicas III (08/NOV/2019)



A L I E N A Ç Ã O               

Bem-vindos a mais um ciclo de crónicas Caixa Alta. 
Inicio este ciclo com uma reflexão do camarada António Guerreiro com um tema que tem tanto de pertinente como de atual. 

Nas ciências sociais, alienação indica o estado de alheamento dos indivíduos relativamente a si próprios e aos outros.
Originalmente, o termo tinha um sentido filosófico e religioso mas Karl Marx construiu-o enquanto conceito sociológico. Segundo ele, esse sentimento de afastamento face a si próprio e aos outros teria a sua origem na negação da essência da natureza humana pela estrutura social. Essa essência humana poderia expressar-se no trabalho criativo e no desenvolvimento de actividades de cooperação com outros indivíduos, pelas quais estes se sentissem a transformar o mundo e a transformar-se a si mesmos. Acusou a sociedade capitalista de negar essas hipóteses de realização e de promover a alienação ao retirar aos trabalhadores qualquer controlo sobre o processo produtivo. Segundo Marx, o sistema de produção capitalista compele ao trabalho retirando-lhe toda a criatividade e espontaneidade, expropria os trabalhadores do produto do seu trabalho e transforma as relações sociais em relações de mercado fazendo do próprio trabalhador uma mercadoria igual às outras.

Alienação pode ter muitos significados, como: transferir; vender; desviar; alucinar; enlouquecer; fugir; evitar… eu sei lá que mais.

Começava assim um artigo que escrevi em Abril de 2004 para o já extinto Jornal de Almodôvar no qual o meu camarada Alberto Matos escrevia também mensalmente um artigo de opinião.

Referia-se o meu artigo à venda por parte do estado português, da Somincor à Euro Zinc a pretexto da diminuição do défice no então Governo de Durão Barroso cuja Ministra das Finanças era Manuela Ferreira Leite.

No mês anterior, a 5 de Março, tinha-se realizado em Castro Verde um debate sobre a privatização da referida empresa e que tinha como convidados o Governador Civil do Distrito de Beja, na altura João Paulo Ramôa; a representar o PSD estava Mário Simões, estes dois naturalmente a favor. João Cordovil do PS que também não se incomodava, até porque o anterior Governo, do seu partido, presidido por António Guterres também já havia tentado a alienação da empresa. Contra estavam Fernando Rosas do Bloco de Esquerda, Rodeia Machado do PCP, António João Colaço do Sindicato do Trabalhadores da Industria Mineira (STIM) e Fernando Caeiros, Presidente da Câmara Municipal de Castro Verde. Estava ainda no painel António Sebastião Presidente da Câmara Municipal de Almodôvar cuja posição não compreendi e fiquei com a sensação de que era “nim”…”que não compreendia o negócio mas que também não haveria motivo para alarmes”. Enfim alheou-se…alienou-se.

Nesta altura passam dois anos sobre as grandes lutas de Outubro, Novembro e Dezembro de 2017 por parte dos trabalhadores das Lavarias da Somincor que reivindicavam há muitos anos a antecipação da idade da reforma á semelhança do que já acontecia com os seus camaradas dos trabalhos subterrâneos.

A Administração da Somincor que sempre se tinha alheado das justas pretensões dos trabalhadores respondeu com a força de intervenção da GNR reforçada com cães para reprimir homens que durante 30 anos tudo deram á empresa.

Por esta altura houve muito alheamento, houve muita alienação. Desde logo por parte da Comunicação Social da região…sim…a Somincor tem muita força…

 Alienação, como foi referido acima, pode também ser: evitar, fugir…

Por onde andavam os autarcas da região? Reuniam com a Administração. Evitavam, fugiam aos trabalhadores.

Como sempre, só não se alienaram o Bloco de Esquerda e o PCP. 

Fará brevemente um ano a 4 de Dezembro, dia de Santa Bárbara, que foi inaugurada na rotunda da entrada sul de Almodôvar uma estátua que, pretendia o presidente da Câmara Municipal de Almodôvar, fosse de homenagem ao mineiro. Como diria o cançonetista popular José Malhoa “até o padre ajudou”. Toda a gente botou discurso inclusive a administração da Somincor. Nesse dia, em Almodôvar, deve ter acontecido um caso único em todo o mundo… só não falou o homenageado. 

          ALIENARAM O MINEIRO

Durante a campanha eleitoral das recentes eleições legislativas, tentaram apropriar-se vergonhosamente da conquista dos trabalhadores. Aqui, convenientemente, não se alienaram.

Em política meus senhores, não pode valer tudo.

É preciso não esquecer que por mais alienados que sejam, não são alienígenas.

                                                              
                                                                 
Caixa Alta, Rádio Castrense
António Guerreiro/Cristina Ferreira, 08/11/2019



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