sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Cristina Ferreira - Crónicas III (15NOV2019)





Facilidade não é sinónimo de Felicidade

Numa era global em que tudo está à mão de semear é fácil ser feliz: as necessidades podem ser satisfeitas em minutos, sejam elas de cariz social, económico, educacional ou outras. 

Facilitar pode ser um atalho mas não será nunca o caminho. 

Facilitar na educação, por exemplo, cria um caminho perigoso de ilusão, de que os percursos não têm obstáculos, de que se pode tudo e que não é preciso estudar ou desenvolver espírito crítico. Deixa de fora a aprendizagem de vivências negativas e da capacidade de superação que daí advém. Deixa de fora a aprendizagem enquanto indivíduo que vive no colectivo escolar, ser social que deve passar ao patamar seguinte, passando a ideia de que tudo é facilitismo, de que nada é difícil de conseguir. 

Se a questão económica é o único factor a ponderar nesta decisão de que o aluno não chumba até ao nono ano, então mais uma vez estamos no caminho errado. Estamos a fomentar diversos factores adversos à aprendizagem, poderemos estar a criar um problema social maior do que aquele que se quer resolver: o insucesso escolar. 

O ministro da Educação, Tiago Brandão defende que deve ser feito um trabalho de acompanhamento mais próximo dos estudantes que revelam mais dificuldades para que o plano de retenção dos alunos não seja entendido como eliminação administrativa das retenções.

Mas não foi sempre esse o objetivo? Acompanhar e apoiar os alunos com mais dificuldades? 

Se as retenções nunca levam os alunos a bom porto, também o facilitar tem o mesmo efeito e com consequências que se prolongam no tempo.

Se cabe às escolas e aos professores a tarefa de “Trazer esses alunos para dentro da escola para que nenhum possa ficar para trás” então terá que dotar as escolas de recursos humanos e materiais para que tal possa acontecer. Nenhuma escola é apelativa se o edifício está degradado, se não há recursos humanos para assegurar o bom funcionamento, se não há professores, se não há medidas e ações que assegurem a satisfação das necessidades, tanto dos alunos como dos profissionais da educação, como quer o ministro que a escola seja apelativa para todos? 

Não esquecer que também os encarregados de educação se afastam da escola e, por isso, também têm que ser chamados!

Tiago Brandão Rodrigues referiu que estas mudanças terão que ter por base projectos pedagógicos e que só assim serão benéficas. “Os directores, dentro da sua autonomia, sabem melhor do que ninguém o que é que serve cada uma das suas turmas em termos de dimensão”, referiu, pelo que “as direções das escolas, conselhos pedagógicos e conselho de turma terão como tarefa definir o “número óptimo” de cada turma tendo em conta o seu projecto pedagógico. Palavras bonitas para criar a utopia de que é fácil resolver problemas de aprendizagem, sociais, económicos ou outros que as escolas enfrentam diariamente na diversidade de situações que ocorrem. 

A aprendizagem tem que ser valorizada como factor de crescimento, tanto individual como social, o reconhecimento social dos profissionais da educação bem como a perspectiva de que se tem um futuro profissional valorizado de certeza que, além de trazerem felicidade, chamam para a escola. 



Caixa Alta, Rádio Castrense
Cristina Ferreira, 15/11/2019


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