HOMENAGEM
O
carro seguia a uma velocidade lenta.
Olhou
em volta e não reconheceu os dois rostos que a acompanhavam. Quem eram? Nunca
os tinha visto.
Onde
estavam aqueles que saíram do seu ventre? Onde estavam os netos, os familiares,
os amigos?
Olhou
melhor e, lá ao fundo, viu que eles saiam dos seus carros ou já estavam à
porta. Afinal iam acompanhá-la àquela que seria a sua última morada.
Viu
os seus rostos e, por momentos, ficou triste!
O
percurso continua e ela reconhece cada um deles, alguns tinham ido à sua casa e
ela recebeu-os com um sorriso honesto, verdadeiro, com o coração cheio de
alegria.
Alegrou-se
por cada vitória, chorou por cada derrota, em cada queda ajudou-os a levantarem-se,
sempre com a mesma força que lhe permitiu levantar-se, erguer-se por cada
derrota que a vida lhe deu.
Ficou
contente por lembrar que, de alguma maneira, em algum momento lhes proporcionou
um sorriso, lhes deu força para seguir em frente. Agora estavam fortes para
sozinhos, enfrentarem a vida. Sim esse tinha sido o seu contributo.
O
que cada um sentia, à medida que caminhava para a sua última morada, era fruto
de alívio, dor, paz, afinal ela descansar em paz, pois já era velhinha.
Chegou,
olhou para a sua última morada, e percebeu que aquele cubo de betão era o seu
espaço entre a terra e o céu; falta de espaço, sociedade moderna, o corre-corre
dos dias, tudo servia de justificação para ir para ali.
Subiu,
a porta fechou-se e, por momentos, ficou triste: ia deixá-los. O escuro tomou conta do espaço e do tempo.
Agora
a família estava reunida: pôr conversa em dia, sorrisos, matar saudades,
conhecer os novos membros.
Ainda
bem que a sua morte se transformou em vida.
Como
alguém disse: por cada morte há sempre uma vida a surgir!
Na
vida, “Em cada avanço (…) há perdas, há lutos a fazer, mas há novos
investimentos que são fonte de prazer e reforço da identidade.” (Celeste
Malpique)
Cristina
Ferreira, 13/11/2020
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