FALAR A VERDADE NÃO É PESSIMISMO
Alexandre Henriques, no Blogue
Com Regras, afirma que as escolas estão a fazer (quase) tudo para evitar a
propagação do vírus. As salas são desinfetadas frequentemente, há gel por todo
o lado, as turmas estão organizadas por turnos ou com horários desfasados,
existem circuitos de circulação, etc. Mas muito mais podia ser feito, desde a
mudança para sistema misto de ensino (metade da carga letiva na escola, metade
em casa; alternância semanal de alunos nas escolas); arejamento mais eficaz;
pausas letivas ao longo do ano letivo para diminuir o contágio, etc…
Mas, em outubro o grupo etário
dos 10 aos 19 anos foi claramente aquele onde o aumento foi mais expressivo,
mais do que duplicando em apenas um mês. No final de setembro o país registava
4.216 jovens com estas idades que tinham sido contagiados, número que chegou
aos 10.199 no final de outubro (+142%), um aumento brutal em plena idade
escolar.
O vírus também se transmite
nas escolas, tal como em todos os locais, pela simples razão que ninguém sabe o
exato momento da transmissão do vírus. Os alunos não mudam de cor quando ficam
contaminados, mas é bastante provável que a transmissão ocorra nos locais onde
existem mais alunos e onde estes passam mais tempo… por isso respeitar todas as
medidas de prevenção é essencial, tanto na escola como… em todo o lado pois num
mês Portugal teve quase tantos infetados como em sete meses.
Este início de ano letivo tem
sido muito duro nas escolas, para toda a comunidade escolar, professores,
assistentes operacionais, afirma Rui Pereira.
O principal problema é sem
dúvida a pandemia. Em primeiro lugar porque não se compreende porque os
professores são a exceção na aplicação de medidas de combate à pandemia. Quem
argumenta que os professores, como os médicos, devem estar na primeira linha,
para salvaguardar o futuro das crianças e jovens, tem razão, mas depois ignora
deliberadamente que os profissionais de saúde têm medidas de proteção que os
professores não têm, como os fatos, enquanto lhes exigem que nem as regras
mínimas sejam cumpridas, como distanciamento de segurança, falta de arejamento
entre aulas com turmas grandes, professores de risco com doenças associadas sem
teletrabalho, etc.
Sim os professores devem estar
na primeira linha, mas com medidas de proteção adequadas e não ser carne para
canhão. Além disso, os professores têm dualidades de critérios para situações
de covid19 como só irem para isolamento profilático uns quantos alunos nuns
casos, a turma toda noutros casos, mas nunca o professor. O objetivo disto é
manter a escola aberta a qualquer preço, o que não tem impedido que esteja a
aumentar o número de alunos com ensino à distância, que é considerado um
parente pobre e bem.
Planeou-se o ensino misto para
as turmas terem aulas só de manhã ou de tarde, com redução das aulas
presenciais para 3/4, mas esta modalidade ainda não foi aplicada nem está
prevista nos concelhos em emergência. Na educação planeou-se, ao contrário da
saúde onde claramente o planeamento falhou, mas agora que era preciso passar ao
ensino misto não se avança. Sr. Primeiro Ministro planear significa estudar
vários cenários onde se coloca hipóteses e abordagens a ter face às mesmas,
desde as mais favoráveis às com maiores dificuldades. Como aceitar que com
tanta gente nos gabinetes que não haja uma previsão de um cenário pessimista.
Se o staff dos gabinetes não serve para planear, o que está lá a fazer? Só tem
direito às mordomias?
Mas se na educação se planeou
um sistema misto e agora se hesita em aplicá-lo, há que dizer que o problema de
falta de professores resulta de um deixar andar, ir navegando à vista e não
planear as falhas sistémicas que possam vir a acontecer no sistema de ensino e
a falta de professores é a mais grave. O facto de terem estado previstas ajudas
de custo para professores deslocados num dos últimos orçamentos e nada ter sido
feito mostra que o problema foi equacionado, mas deliberadamente ignorado.
Concluindo: a normalidade do
ensino está a ser perturbada pela pandemia, com muitos estudantes em casa, em
ensino à distância, pois se as escolas não são na maioria dos casos a origem
dos surtos, estão a ampliá-los, porque as condições são propícias à transmissão
ao não se respeitarem regras impostas a toda a sociedade
Como diz Eduardo Sá: “Falar
verdade não é ser pessimista. Encarar a realidade é perceber até que ponto é
legítimo termos esperança. Em tempos de pandemia os discursos otimistas são uma
ilusão.”
Fonte: https://www.comregras.com/relaxem-a-transmissao-nao-se-faz-nas-escolas/
https://www.comregras.com/do-covid19-a-falta-de-professores-muitos-alunos-sem-aulas-presenciais/
Caixa Alta, Rádio Castrense
Cristina Ferreira, 06/11/2020
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